Folha de S. Paulo


Pecado do consumo faz peregrinos invadirem Saara e turbinar expectativa do comércio

Com a visita do papa Francisco ontem em Aparecida (a 180 km de São Paulo), os peregrinos foram às compras no Centro do Rio de Janeiro, para alegria dos comerciantes, que já preveem vendas entre 40% e 50% maiores do que o normal nessa época por conta da Jornada Mundial da Juventude.

Sem medo de cometer o pecado do consumismo, uma onda de jovens de mochila do evento tomou conta hoje (24) da Saara (Sociedade dos Amigos da Rua da Alfândega e Adjacências), centro de comércio no Centro do Rio comparável à 25 de março paulista.

O alvo, qualquer produto barato com os símbolos da Jornada ou de pontos turísticos da cidade, com destaque para o Cristo Redentor, campeão de bilheteria na preferência dos visitantes.

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A informação de que o Saara era a melhor opção para compras, em comparação aos altos preços cobrados em lojas e quiosques oficiais da Jornada instaladas na zona sul da cidade, vem sendo passada de boca em boca entre os peregrinos, que estão "loucos" pelos produtos com a marca do evento e com símbolos do Rio de Janeiro, segundo os lojistas.

"Só com o pessoal da Jornada a expectativa é faturar entre R$ 30 mil a R$ 40 mil esta semana, cerca de 50% do que eu faturo por mês", comemora Sandro Nogueira, gerente da Cia do Chinelo.

Na sua frente, um peregrino da Eslováquia comprava sandálias havaianas e camiseta com o Cristo Redentor.

"Eles procuram produtos baratinhos, mas vamos ganhar com o volume das vendas", diz Nogueira, que nem pensa em aproveitar os feriado dos dias 25 e 26, decretado pela Prefeitura."O Saara vai funcionar", garante.

Os produtos mais procurados, segundo Nogueira, são bandeiras, camisetas, sandálias Havaianas, e cangas, esta última uma "preferência internacional", brinca.

A agricultora Patrícia Bassi de Aguiar, 30 anos, de Peabiru, no Paraná, uma cidade de 1.500 habitantes, está hospedada em Olaria, no Complexo do Alemão, e vibrou quando descobriu o Saara. "Vou levar lembrancinhas da Jornada e de pontos turísticos do Rio, tudo baratinho", disse.

Ela informou que ao todo trouxe R$ 1 mil para passar a semana no Rio, mas a hospedagem e a alimentação são garantidas pela Jornada, e por isso boa parte desse dinheiro ficará no Saara.

EXEMPLO DE CIMA

Ela estava acompanhada de amigas e do padre Rogério Teixeira, 27 anos, padre há apenas seis meses. As tentações do consumo não contaminaram Teixeira, que confessou que levará "apenas um artesanato bem modesto, porque o meu exemplo vem de cima", brincou, lembrando a opção pela simplicidade do papa Francisco.

Maria da Penha Santana, gerente da Silvestre, uma loja de produtos variados e vários licenciados pela Jornada, também era só euforia. "Põe aí, a Jornada é muito, muito, muito positiva, as vendas estão excelentes", diz enquanto separa cerca de 10 miniaturas do Cristo Redentor para uma cliente.

A expectativa de Maria da Penha é de no mínimo 40% a mais de vendas por causa da Jornada. "Tudo o que tem de Cristo eles levam", informa.

Para o professor de varejo de MBA da Fundação Getúlio Vargas, Daniel Plá, os peregrinos estão aproveitando as economias feitas com hospedagem e direcionando para os gastos com o consumo.

"Eles se concentram em grupos de 20 a 50 pessoas e de repente entram todos juntos numa loja e fazem a alegria dos vendedores." Segundo Plá, os peregrinos gastam entre R$ 20 e R$ 50 em lembranças e a expectativa é de que em média, até o final da Jornada gastem R$ 380 per capita, o que daria R$ 120 milhões ao todo.

De acordo com Plá, além de produtos religiosos, um ponto em comum entre todos, ele vem percebendo uma grande procura por parte das meninas por cangas brasileiras. Entre os rapazes, Plá observou até mesmo a compra de "cachaça para levar para o pai".

"Eles estão comprando muito e fazendo escambo entre eles, mas tudo sempre baratinho", avaliou.


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