Folha de S. Paulo


Análise: Oposição à liberação é marca do argentino

A crítica do papa Francisco às propostas de legalização do comércio de drogas na América Latina vão ao encontro à defesa que o então cardeal Jorge Mario Bergoglio sempre fez em Buenos Aires.

O termo "mercadores da morte" já havia sido utilizado antes por ele --aliás, inclusive por seu antecessor João Paulo 2º.

No Corpus Christi do ano passado, o então cardeal argentino criticava a legalização do consumo de maconha, dizendo que os fiéis não deviam se deixar enganar pela retórica libertária. Naquele momento, o Congresso argentino debatia o tema da liberação da venda de drogas leves.

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Na região, o Uruguai foi o primeiro país a legalizar, com restrições, o consumo de maconha. Há discussões sobre o tema em praticamente todos os países importantes latino-americanos, como o Brasil.

Embora Francisco venha tendo tratamento de popstar no Brasil, e sua empatia e vigor impressionam na comparação com o formalismo de Bento 16 e com o longo declínio físico de João Paulo 2°, ele essencialmente adota posições conservadoras em termos comportamentais de seus antecessores.

Sempre foi um opositor ferrenho não só da liberação das drogas, mas da legalização do aborto e do casamento homossexual.

Por adotar a linha retórica mais ligada à dedicação aos pobres e à compaixão, contudo, Francisco sempre procurou fazer sua defesa no campo geral, evitando culpar indivíduos.

Recentemente, ele provocou uma pequena polêmica teológica ao dizer que Deus estende a salvação até aos ateus, desde que pratiquem o bem. Como se sabe, para as denominações cristãs, a redenção só existe tecnicamente para quem aceita Jesus Cristo como salvador.

Em seu discurso, Francisco também rejeitou o paternalismo puro e simples do assistencialismo. Falou sobre a necessidade de os dependentes químicos desejarem a ajuda que a instituições podem dar. "Ninguém pode fazer a subida em seu lugar", disse.


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