Folha de S. Paulo


Análise: Cálculo feito pelo Planalto já incluía derrotas no Legislativo

O que interessava a Dilma Rousseff no mês passado era sair do imobilismo e ganhar algum protagonismo em meio aos protestos de rua no país. Ela sabia que teria dificuldades para aprovar no Congresso as medidas relacionadas aos cinco pactos que propôs no dia 24 de junho.

Só que essa eventual derrota era dada como secundária e já estava precificada no cálculo da estratégia política do Palácio do Planalto.

Racha entre aliados ameaça pacote de Dilma contra crise

Se tudo desse certo, o sucesso era de Dilma, autora das propostas. Se desse errado, a culpa é dos deputados e dos senadores, insensíveis para a nova realidade do país.

Na interpretação do governo, foram vitoriosas até agora as ações empreendidas por Dilma Rousseff para responder à demanda das ruas.

A presidente é a política que mais apareceu no noticiário nacional fazendo propostas. Nenhum governador ou congressista chegou perto do número de aparições da petista nos telejornais no horário nobre nas últimas semanas.

Apesar de também enfrentar situações constrangedoras --como a vaia que tomou de prefeitos nesta quarta-feira (10)--, Dilma sempre surge explicando novos projetos que supostamente vão melhorar o país.

Há um outro aspecto vital na operação dilmista: a presença constante do marketing aliado à política. Na segunda-feira, a presidente anunciou o programa "Mais Médicos". É impossível precisar quando os cidadãos terão esse benefício no interior do país, mas já no dia seguinte havia uma propaganda de 30 segundos nas TVs falando como se a melhoria estivesse ao alcance da mão.

Essa é uma receita clássica na política: 1) fazer promessas e ocupar espaços; 2) inundar as TVs com propagandas para reforçar a mensagem oficial que atenda aos interesses de quem está no poder. A fórmula requer, entretanto, dois componentes ainda imponderáveis. Primeiro, uma melhora na situação econômica e na sensação de bem-estar da população. Segundo, uma inépcia sem fim dos adversários políticos.

Com uma oposição abúlica a presidente sempre contou. Já a economia dá sinais incertos no momento.


Endereço da página:

Links no texto: