Folha de S. Paulo


Com protestos, Paulinho da Força diz que Dilma deveria demitir ministro da Fazenda

Para o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), que preside a Força Sindical, o mínimo que a presidente Dilma Rousseff deveria fazer, nesse momento, é demitir o ministro da Fazenda, Guido Mantega. "Não dá para ir para as ruas e não falar em inflação, negar a perda do poder de compra dos trabalhadores."

Durante protesto na zona sul de São Paulo, Paulinho da Força disse que convocará uma greve geral de trabalhadores em todo o país. "O governo abandonou e virou as costas para os trabalhadores. Não é possível viver com a inflação e o desemprego que já atinge os trabalhadores nas fábricas. Não é possível viver com uma política tão recessiva", disse Paulinho.

Análise: Mobilização sindical tem característica distinta das passeatas de junho
Xingar Dilma é coisa do Paulinho da Força, diz presidente da CUT

"Vamos nos reunir nesta sexta com as centrais e vamos chamar uma greve geral no Brasil todo", disse o sindicalista ao ser aplaudido pelos manifestantes.

Ele colocou em votação a greve geral, que foi aprovada pela maior parte dos manifestantes. Em seguida, os trabalhadores gritaram em coro "se a Dilma não ceder, o pau vai comer".

Claudia Rolli/Folhapress
Paulinho da Força Sindical participa de protesto na zona sul de São Paulo
Paulinho da Força Sindical participa de protesto na zona sul de São Paulo

A seguir trechos da entrevista concedida à Folha.

Folha - Da pauta de reivindicações, qual a mais importante?
Considera que o combate à inflação é a principal delas, por causa da insatisfação com a política econômica do governo e a perda de poder aquisitivo dos trabalhadores. A redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, sem a diminuição dos salários, é uma reivindicação antiga. Há 18 anos estamos nessa briga pela redução e ela não sai.
E o fim do fator previdenciário é um dos itens mais importantes por causa do achatamento de salários que causa. É uma grande injustiça que o governo comete com os que se aposentam.
O governo federal dá R$ 18 bilhões de desoneração para o empresariado e não dá R$ 3 bilhões por ano para dar ao trabalhador, se acabar com o fator previdenciário.
Muitas vezes, desonera setores que mais demitem no país. É o caso do setor do álcool, que demitiu. O governo não tem sensibilidade com quem se aposenta no Brasil.

A central concorda que a defesa da reforma política seja defendida nas manifestações?
Não, porque temos uma pauta única, antiga e o governo não cumpriu até agora.
Até porque ate porque achamos que a reforma politica não está nessa pauta.
O que é consenso entre as oito centrais que participarão das manifestações é o fim do fator previdenciário, combater o projeto de Lei 4.330, que amplia a terceirização no país, a redução da jornada para 40 horas semanais sem redução de salário, o reajuste das aposentadorias, o fim dos leilões de reservas de petróleo, a redução de tarifas e um transporte público de qualidade, além de mais investimentos em saúde, educação e segurança e a reforma agrária.

O que foi combinado entre as centrais nas reuniões de preparação das manifestações? Houve um acordo e alguém o descumpriu?
Nas reuniões de preparação e na que fechou a pauta são 8 itens consensuados. Ficou liberado para quem quisesse que defendesse,em sua base, suas pautas, também
Em nenhum momento, ficou combinado falar de reforma política. Isso apareceu como um desejo da presidente Dilma e a CUT resolveu bancar essa história. Por isso não concordamos em levar isso, porque em nehum momento constou da pauta nem das discussões.
Na verdade não sei se dá para falar em descumprimento de acordo, mas tem uma clara divergência nossa com o PT e a CUT defenderem e querem enfiar goela abaixo essa história de plebiscito, que até já foi enterrado aqui na Câmara na terça-feira.

Parar o transporte público e interditar estradas não são ações que se voltam contra o trabalhador?
Não creio nisso. Acho que isso ocorreu no passado.
Acho que isso está bem liberado porque a população entende que é necessário ir para a rua para defender o interesse dos mais fracos.
Acho que o povo compreende que é normal, natural, que a população e que os trabalhadores ocupem as ruas e façam manifestações e protestos para defenderem os seus interesses.
Acho que isso foi maior no passado, mas agora não.

O governo Dilma tem atendido ao movimento sindical?
A Dilma não atendeu em nada. Tenho impressão que a gente negociou durante três anos com gente desonesta, que só nos enganou e nos enrolou. As reuniões eram só para nos enrolar, para marcar outras reuniões, para ganhar tempo.
É nesse sentido que falo em desonestidade, de não cumprir com a honestidade nas negociações. E muitas vezes, as questões que foram negociadas não são nem cumpridas. Caso do que ocorreu com os portuários. O governo aceitou que os trabalhadores avulsos trabalhassem próximos dos terminais que estão sendo construídos. Agora estão sofrendo porque isso não foi colocado na nova lei dos portos.
E também em relação às aposentadorias em caráter especial, para a categoria, que foi prometida na mesa de negociação, mas não foi cumprida. Nesse sentido, pode-se falar em gente desonesta, que engana e não cumpre o que promete. Negociamos durante três anos com gente que não cumpre a pauta.

Concorda com a orientação da política econômica?
Nos defendemos, já que acho que não dá para pedir a cabeça da Dilma, hoje, no mínimo que ela demita o ministro da Fazenda, Guido Mantega.
Ele, como chefe da política econômica do país, está levando o Brasil a uma crise, a uma política econômica que não faz o páis crescer, que arrocha salário.
O governo trabalha na contramão do que o povo pede. Quanto mais juro sobe, mais o governo encarece o dinheiro, menos invesmento e menos empregos você vai ter. As pessoas vão investir no banco.
Enquanto as ruas estão pedindo uma coisa, o governo vai no rumo contrário, nesse sentido na contramão.Como o governo se acostumou em enganar [o trabalhador], ele sabe identificar o que o governo quer, mas tenta enganar fazedo outras coisas.
Desvia atenção para outros assuntos, como a Dilma tentou fazer com o plebiscito. Se a nossa pauta não for atendida, a resposta será clara.
Vamos discutir a proposta, que não é nem da Força, mas de outras centrais, de discutir de uma greve geral no país. A Nova Central Sindical e a CSP-Conlutas já defendem essa ideia.
Faremos uma reunião de avaliação na próxima sexta-feira, após as manifestações.
A resposta pode ser uma greve geral em breve, e não somente uma paralisação. Pode ser de um dia, dois dias, uma semana.


Endereço da página:

Links no texto: