Folha de S. Paulo


'Não é hora de ninguém capitalizar a força das manifestações populares', diz Marina

A ex-senadora Marina Silva afirmou nesta quinta-feira (11) que "não é hora de ninguém capitalizar" a força das manifestações populares que aconteceram no país nas últimas semanas.

"Em relação às ruas, eu tenho dito que não é hora de ninguém querer capitalizar. O que está aí é tão importante que precisa virar músculo e, se a gente tiver pressa, pode prejudicar esse metabolismo necessário", afirmou Marina.

Hoje, as maiores centrais sindicais realizam atos em todo o país. Partidos políticos, como o PT, também integram o movimento. Os protestos ocorrem três semanas após a maior manifestação da onda de manifestações contra a elevação das tarifas de transporte, que levou 1 milhão de pessoas às ruas em 20 de junho.

Ela disse que a Rede, partido político que tenta criar, não participará dos atos hoje. "Do mesmo jeito que nas manifestações espontâneas nós não fomos como partido. Nem daquelas, nem dessas que estão sendo convocadas pelos partidos", afirmou.

Ela disse também que a diferença que aponta entre as manifestações das semanas anteriores e as de hoje "não é necessariamente uma crítica".

"O processo anterior foi de autoconvocação com uma organização mínima, que se iniciou com a luta do passe livre e foi ganhando corpo. Essa tem mais o sentido clássico das manifestações conhecidas, pelas centrais sindicais, pelos partidos. É igualmente legítimo."

Zanone Fraissat - 19.mar.13/Folhapress
A ex-senadora Marina Silva, que ainda busca a criação do partido a Rede para disputar as eleições no ano que vem
A ex-senadora Marina Silva, que ainda busca a criação do partido a Rede para disputar as eleições no ano que vem

A ex-senadora participou nesta manhã de um seminário organizado por uma agência de notícias, a EFE.

Em sua fala, afirmou que o "grande desafio" das manifestações "espontâneas" é "não se perder na fragmentação, não ser capaz de pensar interesse público e projeto coletivo".

Ela voltou a criticar o tratamento dado pelo governo às manifestações. Segundo ela, houve uma tentativa de reduzir o momento a uma "pauta de reivindicações" e não se pensou uma agenda para o país a partir dos protestos.

"Mas isso ia requerer um certo distanciamento, e claro que quando você tem o instrumento da reeleição, isso atrapalha muito, Por isso sou contra. Nesse momento, se não fosse a reeleição, era para a Dilma ter assumido a posição de liderar essa nova agenda", afirmou.

Questionada novamente se a Rede é de esquerda ou de direita, se definiu "à frente", como "sustentabilista progressista". "Vendo que hoje Fernando Collor, José Sarney, Paulo Maluf e Jader Barbalho estão juntos com o que se configurou chamar de esquerda no país, eu pensei: se precisa mesmo de um rótulo, digo que não estou nem à direita nem à esquerda, mas à frente. E, como rótulo, sou sustentabilista progressista."

'CATEDRAL DA BISBILHOTAGEM'

Marina afirmou ainda que é "inaceitável" a possibilidade de interceptação de dados de brasileiros pelo governo dos EUA, por meio de redes sociais, e-mails e programas de busca como Google.

"Quando a Meca da defesa dos direitos individuais se transforma na catedral da bisbilhotagem, estamos em um mundo que está se dissolvendo. Como para combater a falta de segurança estabelecemos após a Segunda Guerra um tratado de não proliferação de armas nucleares, talvez o grande desafio agora seja um tratado de não violação da informação", afirmou.


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