Depois de celebrarem "o comprometimento pelo diálogo" entre as cúpulas das duas religiões, o cardeal dom Odilo Scherer, arcebispo metropolitano de São Paulo, e o rabino Michel Schlesinger, da Congregação Israelita Paulista, disseram ver com bons olhos os protestos de rua que ocorreram pelo país nas últimas semanas.
Dom Odilo afirmou que se identifica com as manifestações contra a corrupção, por melhorias na saúde e na educação. E falou com reprovação sobre os gastos com estádios para a Copa do Mundo. Schlesinger afirmou que levantaria um cartaz contra o fanatismo.
Eles participaram ontem à noite, em São Paulo, de um evento para debater os últimos 50 anos da relação entre católicos e judeus no Brasil e no mundo. Mediado pelo ator Dan Stulbach, o encontro "O Vaticano e os Judeus - 50 anos Reconstruindo uma Relação" ocorreu no Cine Livraria Cultura, na avenida Paulista.
Os religiosos concordaram que têm como principal desafio fazer com que a boa convivência entre líderes católicos e judeus também seja observada pelos frequentadores das igrejas e sinagogas.
Schlesinger disse ter expectativas "muito positivas" em relação ao papado de Francisco, que vai chegar ao Brasil no dia 22 de julho para participar da Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro. Ele disse recebido ótimas referências de amigos judeus que acompanharam a trajetória do papa na Argentina, quando ainda era cardeal.
Questionado sobre o crescimento das igrejas evangélicas no Brasil, dom Odilo admitiu que a igreja "percebe" esse movimento "de forma perplexa".
Afirmou que se trata de um "fenômeno contemporâneo" e disse que tem especial preocupação com "grupos flutuantes" dentro do universo pentecostal: fiéis que trocam de igreja com muita frequência.
"Para nós o que é preocupante é a pessoa poder perder a fé, em algum momento se sentir ludibriada [...] isso também é contemporâneo, quando o útil se sobrepõe ao verdadeiro, o vantajoso se sobrepõe ao essencial." (RICARDO MENDONÇA)