Folha de S. Paulo


Evangélico, ministro Crivella atribui onda de protestos a machismo

Evangélico, o ministro da Pesca, Marcelo Crivella, surpreendeu colegas de Esplanada ao apontar o machismo como origem dos protestos de rua pelo país.

Na segunda-feira, durante reunião ministerial na Granja do Torto, Crivella expôs sua opinião diante da presidente Dilma Rousseff: os manifestantes, avalia, foram às ruas porque ela é mulher.

Ainda segundo relato de participantes, a presidente não reagiu à avaliação. Ela foi bem dura, porém, ao responder aos comentários do ministro Moreira Franco (Aviação Civil) sobre o impacto da inflação no ânimo do brasileiro. Segundo participantes, Dilma disse que Moreira não tinha entendido a exposição feita minutos antes pelo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini.

Eduardo Knapp - 30.jun.2012/Folhapress
O ministro Marcelo Crivella (Pesca), bispo licenciado da Igreja Universal, discursa durante Convenção do PRB
O ministro Marcelo Crivella (Pesca), bispo licenciado da Igreja Universal, discursa durante Convenção do PRB

Ministros de Dilma Rousseff criticaram, diante dela, as previsões "otimistas" da equipe econômica e a falta de medidas concretas para responder à onda de protestos.

A presidente foi enfática também em defesa da ministra Helena Chagas (Comunicação). Foram feitas críticas à comunicação do governo, que teria falhado, na avaliação de ministros, na divulgação de ações positivas do Palácio do Planalto.

"A gente não resolve problema só no gogó", disse a presidente, segundo participantes, pedindo para que os ministros cumprissem seu papel.

Após ouvir avaliações negativas de seus próprios ministros, Dilma cobrou maior efetividade de sua equipe, afirmando que têm de dar começo e fim a suas tarefas.

"É preciso entregar" ações à população, reagiu, rebatendo as críticas à comunicação de seu governo.

Durante a reunião, Moreira Franco afirmou que entendeu a fala de Tombini, mas que "na hora da compra a percepção das pessoas é que, ao irem ao supermercado, o dinheiro já não compra o mesmo do que no ano passado".

Moreira reagiu ainda ao pedido de Tombini para que explicassem bem a trajetória da inflação, que no acumulado de doze meses ficará acima da meta (6,5%) em junho, mas terá uma tendência de queda.

O ministro afirmou que esse "é um problema político, não de comunicação".

Dilma alegou, em resposta, que a inflação está caindo mensalmente. "O povo não faz compras vendo um gráfico. Mas sente no bolso", argumentou Moreira, segundo relato de participantes.
A reunião foi marcada por dissonância entre equipe econômica e demais ministros. Remanescente da equipe do ex-presidente Lula, Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) foi o primeiro a lançar dúvidas sobre as previsões feitas por Miriam Belchior (Planejamento) e pela chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann.

Segundo presentes, Carvalho argumentou que não haveria manifestações se tudo estivesse "cor-de-rosa". O ministro Paulo Bernardo (Comunicação) disse, segundo participantes, que o momento exigia um autocrítica, enquanto José Eduardo Cardozo (Justiça) sugeriu uma análise da origem do movimento.

Ainda segundo participantes, Dilma cobrou objetivamente os ministros César Borges (Transportes) e Fernando Bezerra (Integração), avisando que será mais dura na cobrança do trabalho dos ministros.

Horas antes, num momento de ausência da presidente, Cesar Borges usou uma música ao comentar a exposição de Belchior.

"De que me vale tudo isso se você não está aqui?", afirmou, numa referência à música de Roberto Carlos.

Procurado pela Folha, Borges disse, por intermédio da assessoria, que não se lembrava dessa intervenção, descrita por quatro ministros que participaram da reunião.


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