Folha de S. Paulo


Recusados por ministro, índios invadem Funai

Após não serem recebidos pelo ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência), um grupo de aproximadamente 150 indígenas invadiu na tarde desta segunda-feira (10) a sede da Funai (Fundação Nacional do Índio) em Brasília.

O ato, pacífico, é realizado por indígenas de quatro etnias (arara, xipaia, caiapó e mundurucu), prejudicadas pelas hidrelétricas de Belo Monte e do rio Tapajós, no Pará.

Índios não participam de reunião com ministro

Os índios exigem ter poder de veto a obras que sejam construídas em seus territórios. Eles devem passar a noite no local.

Pedro Ladeira/Folhapress
Índios de várias etnias invadiram o prédio da Funai em Brasília na segunda-feira (10) e exigem ser atendidos pelo governo federal
Índios de várias etnias invadiram o prédio da Funai em Brasília na segunda-feira (10) e exigem ser atendidos pelo governo federal

O grupo, no qual estão mulheres e crianças, é o mesmo que na terça-feira da semana passada (4) foi recebido por Carvalho. Eles afirmam que, na última sexta (7), o ministro concordou em voltar a recebê-los hoje, quando entregariam novo documento sobre como as usinas podem impactar seus territórios. Quando chegaram no Planalto, às 10h, contudo, Carvalho não os recebeu.

Em nota, a Secretaria-Geral disse que o ministro "aguardou por cerca de uma hora" pelo encontro, mas que as lideranças "recusaram-se a participar da reunião, limitando-se a protocolar um documento na Presidência da República".

"O ministro lamenta a perda desta oportunidade de diálogo, mas reafirma sua disposição de continuar em negociação com vistas a realizar um amplo processo de consulta prévia sobre os empreendimentos hidrelétricos na região da bacia do rio Tapajós."

O comitiva indígena conta uma outra versão. Diz que, na verdade, Carvalho quebrou um acordo feito previamente e que, hoje, só aceitou se reunir com um grupo de dez pessoas, e não com todos os 150, o que impediu a reunião.

"O governo soltou uma nota mentirosa. Não foi isso que foi acordado. Isso [reunião com dez pessoas] ninguém aceita", disse Valdenir Mundurucu.

Segundo ele, a invasão na Funai teve diversos objetivos, dentre eles protestar contra a negativa de Carvalho e contra a atitude da própria Funai. "Ela defende mais a posição do governo do que a posição dos indígenas", afirma Valdenir.

Com a entrada na sede, o grupo tenta fazer com que o órgão indigenista lhes dê comida e transporte de volta para o Pará. Valdenir diz que funcionários da Secretaria-Geral afirmaram que o retorno deles não é mais responsabilidade da pasta.

Desde a semana passada, o grupo estava em uma chácara da organização não governamental (ONG) Cimi (Conselho Indigenista Missionário), que os ajudava também com alimentação de transporte. Até o início da noite, eles não haviam sido recebidos pela presidente interina da Funai, Maria Augusta Assirati.

CRISE

Assirati --que não atendeu pedido de entrevista da Folha hoje-- entrou no lugar de Marta Azevedo, que caiu na semana passada, em meio ao maior conflito entre indígenas e governo federal da gestão da presidente Dilma Rousseff.

Os atritos estão espalhados pelo país, mas têm como epicentro o Mato Grosso do Sul, onde um índio terena foi morto durante reintegração de posse coordenada pela Polícia Federal. A terra foi invadida novamente depois, e um segundo índio foi baleado.

Após os confrontos, cerca de 110 homens da Força Nacional viajaram para a região.


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