Folha de S. Paulo


Índios dizem que vão resistir à nova ordem de reintegração em MS

Índios da etnia terena que invadiram uma fazenda em Sidrolândia (72 km de Campo Grande) disseram nesta segunda-feira (3) que não vão cumprir o novo mandado de reintegração de posse concedido no domingo (2) pela Justiça Federal.

Desde a última sexta-feira (31), os terenas voltaram a invadir a fazenda Buriti. A nova invasão se deu em manifestação contra a morte do índio Oziel Gabriel, na operação de reintegração de posse realizada no dia anterior.

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Oziel foi morto durante confronto entre indígenas e agentes das polícias Federal e Militar, que cumpriam a primeira ordem de reintegração de posse.

O corpo de Oziel foi enterrado nesta segunda-feira. Após a cerimônia, os índios rasgaram a decisão judicial que deu à Funai (Fundação Nacional do Índio) 48 horas para negociar a saída pacífica dos indígenas.

Marcos Tome/Região News
O terena Oziel Gabriel, 35, empunha arco e flecha pouco antes de ser baleado na operação de reintegração de posse
O terena Oziel Gabriel, 35, empunha arco e flecha pouco antes de ser baleado na operação de reintegração de posse

Caso a decisão seja desobedecida, a União está sujeita a multa diária de R$ 1 milhão. A Funai em MS e lideranças indígenas terão que pagar R$ 250 mil por cada dia de desobediência.

Os líderes da aldeia Buriti realizaram ontem uma audiência para discutir os rumos da invasão.

Segundo a Famasul, federação que representa os produtores rurais, 65 propriedades estão invadidas em 20 municípios. Sidrolândia, onde fica a fazenda Buriti, é a que tem mais terras invadidas, 12.

Procurada em Brasília, a Funai não se manifestou a respeito das invasões no Estado, mas diz que a fazenda Buriti está situada na área da Terra Indígena Buriti, que pertence aos terenas, mas ainda não foi homologada (reconhecida oficialmente) pelo governo.

Duas fazendas --Cambará e Lindoia-- foram invadidas no domingo (2), um dia após líderes indígenas terem se comprometido com o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) a não fazer novas invasões em Mato Grosso do Sul por 15 dias. Em troca, o CNJ intermediaria uma possível reunião dos índios com a presidente Dilma Rousseff.

Os produtores rurais informaram que vão se reunir nesta terça-feira (4), em Brasília, com deputados e senadores do Estado para que eles intermedeiem um pedido formal à Presidência da República para que o Exército ou a Força Nacional de Segurança Pública impeçam novas invasões e garantam a reintegração de posse das propriedades já invadidas.

MARCHA

Cerca de 400 indígenas e quilombolas ligados a movimentos sociais saíram na manhã desta segunda-feira (3) do distrito de Anhanduí rumo a Campo Grande. O grupo deve percorrer os 63 quilômetros até quinta-feira (6).

A Marcha dos Povos da Terra reivindica atenção do governo federal às questões fundiárias em Mato Grosso do Sul.


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