Folha de S. Paulo


Mulher acredita em boato e gasta Bolsa Família com dívidas

Uma agricultora da zona rural de Quixadá, no interior do Ceará, acreditou no boato de um bônus do Bolsa Família relativo ao Dia das Mães.

Ela sacou o benefício em meio aos tumultos da semana retrasada, gastou todo o dinheiro com dívidas e remédios e caiu no choro dias depois, quando descobriu que não havia um bônus, e sim um pagamento antecipado no calendário da Caixa.

"Eu chorei tanto. Disseram que não tinha mais dinheiro. Ia comprar comida e remédio para minha bronquite", disse Lúcia Sousa Fideles, 48.

A agricultora diz que no sábado retrasado, em meio à correria às agências em diferentes Estados, recebeu o telefonema de uma prima.

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"Ela me disse: 'Vá sacar seu Bolsa Família que é um presente que a presidente Dilma mandou pra você'."

Lúcia acreditou no boato, já que, segundo o calendário oficial do programa, seu benefício estaria disponível somente na semana seguinte.

ANTECIPAÇÃO

O calendário foi todo antecipado pela Caixa, conforme a Folha mostrou no último sábado, mas nenhum dos beneficiários havia sido informado sobre essa mudança.

"Eu pensei: 'Que grande bênção'. Mandei meu irmão sacar o dinheiro e gastei com remédios para meu filho, que estava doente de virose, e pagando umas dívidas."

O benefício mensal dela é de R$ 102 --R$ 70 de benefício básico e outros R$ 32 de benefício variável (filho).

Ao sacar o benefício movida pelos boatos, ela diz ter recebido apenas R$ 70, o que ajudou a reforçar a ideia de um bônus da presidente.

PROBLEMA NO CADASTRO

Segundo a prefeitura, a redução do valor ocorreu porque havia um problema no cadastro, o que já foi corrigido para o mês que vem.

Lúcia mora sozinha com o filho de 12 anos em uma pequena casa de taipa, com dois cômodos e um quintal ao fundo. Neste ano, por causa da seca, não conseguiu plantar nada para a sua subsistência.

Atualmente depende do Bolsa Família e da mãe, que vive num município vizinho.

Triste com a situação, Lúcia exibe os armários de sua cozinha, com apenas alguns sacos de arroz e de macarrão.

"É muita maldade mexer com o Bolsa Família de uma pobre que não tem nada", disse Lúcia.


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