Folha de S. Paulo


Índice do governo nasceu como tentativa de criar indicador mais completo que o IDH

Indicador usado pelo governo federal para analisar a pobreza no país, o IDF (Índice de Desenvolvimento da Família) nasceu no segundo governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) como uma tentativa de criar um indicador mais completo que o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) da ONU, aplicado em todo o mundo.

"Você não consegue calcular o IDH de uma pessoa. Você consegue calcular o IDH no máximo de um bairro. Só que as pessoas vivem em famílias e portanto era mais natural calcular que o índice de desenvolvimento de uma pessoa estava relacionado à família em que ela vive. Então, na verdade o IDF é o IDH de cada família", diz o economista Ricardo Paes de Barros. A demanda veio de Wanda Engel, então ministra de Assistência Social --hoje Ministério do Desenvolvimento Social.

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Um dos principais formuladores de políticas públicas do país, Paes de Barros criou o IDF, com Mirela de Carvalho, no Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), subordinado à Presidência da República. Hoje ele está na SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos).

"A outra dificuldade é que IDH utiliza poucas dimensões. Em geral quatro indicadores, três dimensões [o IDF tem hoje 60 indicadores e seis dimensões]. Nossa ideia era: se a gente tem um Cadastro Único tão rico, por que não explorar todas as informações que existem no Cadastro Único?", afirma. "O IDF não surge de uma ideia pre-concebida: 'que indicadores eu vou usar?'. Fomos olhando para o Cadastro Único e dizendo: 'como é que eu organizo [os dados]'?"

O economista diz que um potencial defeito de indicadores que sintetizam diversas informações, como o IDH ou o IDF, é que por vezes "você mistura várias coisas que você sabe o que é e alcança uma coisa que você não tem a mais vaga ideia do que seja".

"O IDF tenta combater isso. Cada indicador [ou componente] é uma resposta se você tem um direito atendido ou violado. Se você tiver aquele direito aceito ou preenchido você ganha 1, se você tiver aquele direito violado você ganha 0. [Uma família com] um IDF de 0,5 tem uma interpretação clara: do leque de direitos que a gente listou e que a gente mede no Cadastro Único, e portanto devem ser os direitos relevantes porque são o que a gente mede, [a família] tem 50% daqueles direitos violados."

Editoria de Arte/Folhapress

Ele lembra que as diferentes dimensões medem se a família tem "oportunidades para adquirir habilidades, oportunidades para usar produtivamente essas habilidades e condições para aproveitar essas oportunidades".

Para o economista, "o máximo que você consegue dar para o pobre é um conjunto de oportunidades". "Sair da pobreza é como aprender matemática. Você levar o livro, dar o professor, dar a aula, a pessoa só sai da pobreza se aproveitar as oportunidades que são dadas para ele."

Paes de Barros diz que a maneira de calcular o IDF está mudando. Hoje, ele é feito por meio de uma média aritmética --que soma as notas das dimensões e divide o resultado. No futuro, o índice usará uma média geométrica, que multiplica e tira a raiz quadrada do resultado. Isso vai "punir" a desigualdade de dimensões. Exemplo: se qualquer uma das delas tiver nota 0, o IDF final será 0. No modo atual, esse 0 seria "absorvido" na média.


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