Folha de S. Paulo


Análise: Fora questões de crença e moral, bancada evangélica tem pouco em comum

O aparente sucesso dos candidatos evangélicos nas eleições brasileiras por vezes provoca uma avaliação equivocada do poder desse grupo, como se sua capacidade de angariar votos fosse superior a de outros segmentos.

Mesmo representando cerca de 20% da população brasileira, os evangélicos ocupam menos de 15% das cadeiras na Câmara dos Deputados. Nesse contexto, a existência de uma bancada evangélica na Câmara pode ser considerada como a natural representação de uma parcela da sociedade.

Mas, ao contrário do que pode parecer aos que observam à distância, seus membros têm pouco em comum além do segmento religioso. Pertencentes a partidos, ideologias e denominações diferentes, os deputados evangélicos possuem baixo poder de pressão fora de questões que envolvam suas crenças, especialmente quando comparada a outros grupos, como a bancada ruralista.

Ciente de suas limitações, a bancada evangélica acaba por ter uma atuação mais direcionada à defesa de seus interesses e menos em propor grandes projetos. Nesse sentido, seus representantes raramente diferem dos demais parlamentares.

Apesar disso, as ações dos deputados evangélicos geram reações mais críticas e intensas que as de outros grupos no Congresso, talvez por seu comportamento menos discreto ou por tratar de valores morais e crenças.

O que os críticos não levam em conta, porém, é que a bancada evangélica pouco conquistaria se não obtivesse apoio de outros parlamentares. A presença do deputado Marco Feliciano na Comissão de Direitos Humanos da Câmara é um bom exemplo dessa realidade.

As críticas levantadas à bancada evangélica muitas vezes erram o verdadeiro alvo, e fazem lembrar o pensamento brilhantemente sintetizado por Sartre: "O inferno são os outros".

HILTON FERNANDES é cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo


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