Folha de S. Paulo


Em AL, boato sobre fim do Bolsa Família correu entre vizinhos

O boato sobre o fim do Bolsa Família correu de boca em boca em Maceió (AL) e provocou brigas e confusões em frente a agências da Caixa Econômica Federal e de casas lotéricas no domingo (19).

No Rio Grande do Norte, houve depredação de agências e a Polícia Militar teve de ser acionada.

Boato sobre fim do Bolsa Família causa filas e tumulto na Baixada Fluminense
PF vai investigar origem de boatos sobre fim do Bolsa Família

Apesar de o governo federal ter se apressado para desmentir o boato, iniciado no sábado, o tumulto continuou até domingo à tarde.

Moradora de Maceió, a empregada doméstica Jane Cabral, 39, passou três horas na fila de uma lotérica para tentar sacar o dinheiro, com medo de que sua conta fosse bloqueada. Ela não conseguiu, e disse que ainda tem dúvidas se o seu benefício será ou não cortado.

Clemilson Campos/JC Imagem/Folhapress
Boato que o Programa Bolsa Família iria acabar fez com que vários beneficiários fossem às agências da Caixa
Boato que o Programa Bolsa Família iria acabar fez com que vários beneficiários fossem às agências da Caixa neste domingo (19)

Jane conta que recebeu um telefonema de uma vizinha, Cícera, às 17h40 de sábado. A amiga contou ter ouvido conversas sobre um suposto depósito extra na conta dos beneficiários do Bolsa Família, autorizado pela presidente Dilma Rousseff, em comemoração ao Dia das Mães.

Vinte minutos depois, afirmou, Cícera voltou a ligar, desta vez para dizer que a verba teria sido liberada porque o Bolsa Família iria acabar.

A conversa que corria na cidade era que todos deveriam sacar ainda no domingo, ou perderiam o dinheiro.

Jane, que recebe R$ 102 do Bolsa Família, foi para uma casa lotérica que funciona dentro de um supermercado no bairro da Serraria.

No local, espantou-se com a quantidade de pessoas na fila. "Tinha tanta gente que a fila saía do supermercado e dava duas voltas no estacionamento", contou.

"Era um corre-corre danado, gente querendo furar fila, todo mundo falando e gritando ao mesmo tempo."

A confusão aumentou, segundo ela, pouco antes das 23h, horário de fechamento do supermercado, quando a lotérica anunciou que o dinheiro havia acabado.

"Aí as pessoas se descontrolaram", disse Jane. "Batiam na porta, diziam que não acreditavam e ninguém entendia nada. Algumas mulheres saíram no tapa."

Jane deixou a lotérica quando o segurança ameaçou chamar a polícia. Em nova conversa com a vizinha, perguntou sobre a origem da história. Cícera lhe contou que a ouviu de um vizinho, que, por sua vez, disse ter sido informado por um amigo.

PEDRADAS

Ao menos nove cidades potiguares ficaram com as agências da Caixa lotadas ontem à tarde --Mossoró, Parnamirim, Nova Cruz, Caicó, João Câmara, Goianinha, Canguaretama, Açu e Natal, que registrou o problema nos bairros do Alecrim e de Igapó.

Em Goianinha e em Parnamirim, portas de vidro foram quebradas pela população como forma de protesto.

"Algumas pessoas ficaram revoltadas com a notícia e jogaram pedras nas agências, mas a polícia estava presente", disse o comandante-geral da PM no Estado, coronel Francisco Canindé de Araújo.

O policiamento foi reforçado também nas cidades de Mossoró e Açu e nas duas unidades da Caixa em Natal que registraram filas.

O governo pediu à Polícia Federal que investigue a origem da falsa notícia. "Todas as possibilidades estão sendo consideradas, inclusive a de motivação política. "Ao que parece, não foi mero acaso, e nenhuma hipótese pode ser descartada", disse ontem o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça).

O Bolsa Família, que contempla 13,8 milhões de famílias e completa dez anos em outubro, é o principal programa de transferência direta de renda do governo. Ele tem forte peso político-eleitoral, tendo virado um dos símbolos das gestões de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.


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