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Líder do PMDB critica articulação política do governo e cita Palocci como exemplo

Embora tenha evitado afirmar que houve traição do Palácio do Planalto em acordo para a votação de emendas à medida provisória que regulamenta o setor portuário, o líder do PMDB, deputado Eduardo Cunha (RJ), criticou duramente nesta quarta-feira (15) a articulação política do governo, e chegou a citar o ex-ministro da Casa Civil Antonio Palocci como exemplo a ser seguido.

"A articulação está sendo feita de uma forma um pouco ruim. Faltam pessoas com perfil como o Palocci no comando, que tenham um pouco de jogo de cintura na construção política", afirmou Cunha.

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"Não quero fulanizar. O problema é o produto. A articulação não está funcionando de forma a diminuir o stress com a base. Está funcionando de forma a aumentar o stress."

Pedro Ladeira/Folhapress
Eduardo Cunha no plenário da Câmara durante votação da MP dos Portos; sua emenda foi derrotada
Eduardo Cunha no plenário da Câmara durante votação da MP dos Portos; sua emenda foi derrotada

As negociações sobre o assunto são conduzidas pelas ministras Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil).

Cunha tem sido um dos principais personagens na polêmica da discussão sobre a MP dos Portos.

Autor de emendas que na visão do Planalto desfiguraram o texto originalmente enviado para o Congresso, ele é acusado pelo deputado Anthony Garotinho (PR-RJ) de defender interesses empresariais afetados pela proposta do governo, mais especificamente do empresário Daniel Dantas, controlador da Santos Brasil, dona de terminais portuários.

O texto-base da MP foi aprovado ontem (14) na Câmara dos Deputados. No entanto, na fase de votação separada de emendas ao texto, surgiu a cisão entre Eduardo Cunha (e a bancada do PMDB) e o Planalto.

Um acordo costurado com ministros palacianos e com o vice-presidente Michel Temer (PMDB) previa a aprovação de algumas das sugestões de Eduardo Cunha. No entanto, não havia consenso sobre a forma de apresentação.

Ao contrário do que o Planalto queria, Cunha aglutinou numa mesma emenda pontos que o Planalto aceitava e outros que o governo rejeitava terminantemente.

Segundo o peemedebista, esse fator o impede de afirmar que houve traição do governo.

"Vai ficar sempre essa zona de sombra para saber se teve descumprimento [de acordo] ou não", afirmou.

Segundo ele, o que pesou na derrota de sua proposta não foi o Planalto, mas o PDT, com uma bancada de 21 deputados.

Segundo ele, o deputado Paulinho da Força (PDT-SP), também um dos principais opositores da medida provisória feita pelo governo, comunicou que tiraria o apoio porque o peemedebista recuou de um dos pontos mais importantes que defendia.

Trata-se da proposta de determinar que os trabalhadores de todos os tipos de portos, seja público ou privado, sejam contratados por meio do OGMO (Órgão Gestor de Mão-de-Obra), uma associação de operadores portuários.

AMEAÇA

Apesar dessa posição mais apaziguadora em relação aos detalhes da votação de terça-feira, Eduardo Cunha fez uma ameaça velada. Ao admitir que ele estava marcando posição, disse que o governo não pode se apoiar em "vitória de um dia".

"Houve uma marcação [de posição] mútua. Mas não adianta uma vitória de um dia, se a gente tem o dia a dia para conviver", disse o deputado.

Ele mencionou o marco regulatório da mineração, outro tópico de muita polêmica e que ainda não começou a ser discutido.

O deputado criticou uma suposta postura do Planalto em disseminar a ideia de que as propostas do PMDB são contrárias aos interesses nacionais.

"Tem que acabar esse conceito maniqueísta, de que tudo o que o governo propõe é para o bem do Brasil, enquanto tudo o que o PMDB propõe é para o pior do Brasil", afirmou.

Editoria de arte/Folhapress

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