Folha de S. Paulo


Suzana Marcolino não atirou em PC Farias e nela, diz perito

Um dos peritos que trabalharam na confecção do segundo laudo da morte de Paulo César Farias e Suzana Marcolino disse nesta quinta- feira (9) que ela não efetuou os disparos que mataram o casal, na casa de praia do empresário, em 1996.

"Não foi identificada nas mãos de Suzana sequer uma partícula oriunda de tiro. Se ela atirou no seu peito, por que não apareceu sangue nas mãos de Suzana? Por que não apareceu sangue na arma? Isso leva a excluir tecnicamente a possibilidade de que ela tenha empunhado a arma para atingir a si mesma", afirmou Domingos Tochetto.

Perito-chefe agora diz que altura de Suzana não importa no caso PC

Essa conclusão já havia sido apresentada no laudo emitido em 1999. Esse documento contesta o primeiro laudo, elaborado em 1996 por peritos de Alagoas e pela equipe do legista Badan Palhares, que defende a tese de que Suzana atirou em PC Farias e depois cometeu suicídio.

O segundo laudo conclui que houve um duplo homicídio. O casal foi encontrado morto na cama na manhã de 23 de junho de 1996. PC Farias tinha 50 anos e Suzana, 28.

Segundo Tochetto, os exames realizados por Palhares na Unicamp encontraram apenas substâncias existentes na água mineral usada pelos peritos alagoanos no teste para verificar resíduos de pólvora nas mãos de Suzana e PC Farias.

"Dos quatro elementos encontrados através do microscópico eletrônico de varredura nas mãos de Suzana Marcolino, três deles estão presentes na água mineral. Os mesmos quatro elementos metálicos que foram localizados nas mãos de Suzana foram localizados nas mãos de Paulo César Farias. Nenhum desses elementos é oriundo de um tiro", disse o perito.

"A ausência de resíduos metálicos, a ausência de sangue na arma, a ausência de sangue na mão dela são provas de que ela não empunhou a arma", disse Domingos Tochetto.

Ponto-chave das investigações posteriores foi a análise sobre a altura de Suzana --crucial para avaliar o disparo.

Em 1999, a Folha publicou fotos que comprovaram que Suzana tinha no máximo 1,57 m, enquanto Badan considerara 1,67 m, embora não tenha registrado isso em seu laudo.

Ontem, Badan admitiu "lapso" ao não incluir a informação, mas procurou defender a tese do 1,67 m.

Nesta manhã, a previsão é que o juiz Maurício Breda ouça outros dois peritos responsáveis pelo segundo laudo, Daniel Muñoz e Genival Veloso.

À tarde, devem ser ouvidos os quatro ex-seguranças de Paulo César Farias, acusados de envolvimento na morte do empresário e da namorada dele, Suzana Marcolino.

Devem falar os policiais militares Adeildo dos Santos, Reinaldo de Lima Filho, Josemar Faustino dos Santos e José Geraldo da Silva, que faziam a segurança do empresário e ex-tesoureiro da campanha de Fernando Collor de Mello, em 1989.

A Promotoria defende a tese de que os ex-seguranças são coautores do duplo homicídio qualificado por omissão, já que nada fizeram para impedir o crime.

Com o depoimento deles, o julgamento caminha para a reta final. Após a fala de cada um dos quatro réus --que serão questionados pelo juiz, pela acusação e pela defesa--, é a vez dos promotores e dos advogados de defesa falarem. Primeiro fala a acusação, depois a defesa. Ainda pode haver réplica e tréplica.

Somente depois dessa fase é que os jurados são recolhidos a uma sala isolada e respondem a um questionário elaborado pelo juiz, decidindo se os réus são culpados ou inocentes. Se forem culpados, o juiz calcula a pena e a lê no plenário, onde também será comunicada uma eventual inocência dos ex-seguranças.

Há possibilidade de que o julgamento se arraste até sábado (11).

3º DIA

Ontem, o juiz Maurício Breda ouviu os peritos responsáveis pelo primeiro laudo.

Para eles, não há dúvida de que Suzana matou PC e depois se matou, ao lado dele.

No entanto, os dois primeiros peritos que examinaram os corpos disseram que o exame de resíduos feito nas mãos do casal não é conclusivo.

Anita Gusmão, do Instituto de Criminalística de Alagoas, disse que o método usado à época, o exame de Griess, é "primário" e caiu em desuso porque "deixava a desejar".

Nele, o resultado nas mãos de Suzana deu positivo para pólvora e negativo para as mãos do tesoureiro da campanha de Fernando Collor em 1989 --PC foi o operador do esquema de corrupção que levou ao impeachment do então presidente em 1992.

O perito Nivaldo Cantuária, que repetiu o exame no IML (Instituto Médico Legal), afirmou que o exame pode dar "falso positivo". "Atualmente, não [é confiável]. Existem outros métodos que pesquisam outros componentes." Perícia da equipe de Palhares apontou chumbo e nitrato nas mãos de Suzana e de PC.

Em um depoimento de 2h30, o mais longo até o momento, Palhares disse ter "certeza absoluta" que Suzana matou PC e depois se suicidou. "O local do crime define por si só que aquilo foi um homicídio seguido de suicídio."

A distância dos tiros, as manchas de sangue, a trajetória das balas, a ausência de agressões e a porta trancada por dentro do quarto são alguns dos elementos para justificar a análise, disse.

Além dos peritos, o juiz ouviu cinco testemunhas. A ex-cunhada de PC Farias Eônia Bezerra evitou acusar Augusto Farias, irmão de PC, e seguiu a tese de crime passional defendida por ele.

Os delegados Alcides Andrade e Antônio Carlos Lessa rebateram a acusação feita por Augusto de que teriam tentado negociar o não indiciamento dele. A dupla afirmou também que um porta-voz da família Farias teria tentado subornar um deles.

Anna Marcolino, irmã de Suzana, negou que ela tivesse tendência ao suicídio.
(DANIEL CARVALHO, NELSON BARROS NETO, RICARDO RODRIGUES)

Editoria de arte/Folhapress
Laudos morte PC Farias

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