Folha de S. Paulo


Perito-chefe agora diz que altura de Suzana não importa no caso PC

Fortunato Badan Palhares, 69, diz ter sido "incompreendido". Quase 16 anos após assinar artigo na Folha defendendo que a altura da namorada de Paulo César Farias, Suzana Marcolino, era "fundamental" para concluir que ela se suicidou depois de matá-lo, o perito responsável pelo laudo adotado pela defesa dos ex-seguranças de PC relativizou a situação.

"Suzana estava sentada e, quando nós sentamos, perdemos alguns centímetros da nossa região glútea", disse na noite desta quarta-feira (8), durante depoimento que foi o mais longo do julgamento sobre as mortes do casal, em 23 de junho de 1996.

Palhares defendeu em 1997 que altura foi fundamental para solução do caso; veja artigo

"[Isso acontece porque] há um relaxamento do corpo e também depende do volume do glúteo", completou Palhares. "E ela [Suzana] era uma mulher que tinha o glúteo desenvolvido", acrescentou.

Segundo ele, que atuou em outros casos de repercussão como os massacres de Eldorado do Carajás (PA) e da penitenciária do Carandiru (SP), além do assassinato do seringueiro Chico Mendes (AC), o tamanho do tórax é outro fator que influencia o cenário.

Dois homens com 1,80 m, de acordo com o médico legista, podem ter alturas diferentes quando sentados.

"Nunca podemos comparar uma pessoa a outra em absolutamente nada, principalmente no que diz respeito à altura. As características fenotípicas podem até ser parecidas, semelhantes, mas jamais iguais", afirmou no Fórum da Capital, em Maceió.

À Folha, no dia 21 de setembro de 1997, Palhares escreveu, para defender a hipótese de sua perícia: "A altura de Suzana é fundamental. Estando errada, estará errado todo o resto -a começar pela trajetória do tiro e por sua projeção em relação à parede trespassada pela bala".

O texto seguiu: "Tudo se alteraria, desde a curva feita pela arma em seu movimento de recuo [e nele, a distância e a forma em que a arma foi encontrada] até o tamanho e a forma das gotas de sangue encontradas na cama".

Agora, o perito paulista que foi chamado pelo Ministério da Justiça, na época, para auxiliar o trabalho dos profissionais de Alagoas, diz que se referia à altura sentada da namorada de PC Farias.

Ele ainda reafirmou que Suzana era mais alta do que o tesoureiro de campanha do ex-presidente Fernando Collor, em 1989: mediria 1,67 m, contra 1,61 do namorado. Para tanto, citou um prontuário civil da Secretaria de Segurança Pública alagoana.

Em 1999, reportagem da Folha mostrou que Suzana era mais baixa do que PC.

Palhares foi proibido de dar entrevistas pelo juiz Maurício Breda. Para o advogado José Fragoso, que defende os quatro ex-seguranças de Paulo César no julgamento, não houve contradição do legista. "Ele quis dizer a altura sentada. É que se ela fosse diferente, a posição de Suzana seria outra", disse à Folha.

Fragoso foi contratado pelo irmão de PC, o ex-deputado federal Augusto Farias, que chegou a ser indiciado sob a suspeita de ter mandado matar o casal.

Também procurado pela reportagem, o promotor do caso, Marcos Mousinho, discordou do adversário. "Ele [Palhares] se contradisse. Perícia nenhuma é perfeita".

Editoria de arte/Folhapress
Laudos morte PC Farias

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