Folha de S. Paulo


Polícia investiga possível relação entre mortes de jornalistas em Minas

A Polícia Civil de Minas Gerais investiga a morte de um repórter-fotográfico na região do Vale do Aço e a possível ligação do crime com a morte de outro jornalista na região.

Walgney Assis Carvalho, 43, foi morto a tiros na noite deste domingo (14) em Coronel Fabriciano (201 km de Belo Horizonte).

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Ele era fotógrafo colaborador do jornal "Vale do Aço" na cobertura de assuntos relacionados à área policial. Carvalho também prestava serviço para a perícia da Polícia Civil.

O crime ocorreu 37 dias após o assassinato, em Ipatinga, também no Vale do Aço, do jornalista Rodrigo Neto, colega de Carvalho no mesmo jornal. Neto apurava informações sobre suspeita de participação de policiais em homicídios.

Segundo a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia de Minas, Carvalho foi uma das primeiras pessoas a serem ouvidas sobre a morte de Neto, e havia repassado informações úteis ao caso.

Segundo a Polícia Militar, Carvalho estava em um clube de pescaria quando um homem de capuz aproximou-se dele e começou a atirar, fugindo em um moto. O crime ocorreu por volta das 22h30.

Carvalho foi atingido na cabeça e no braço direito. Não resistiu aos ferimentos e morreu na hora.

Testemunhas disseram à polícia que o suspeito já havia ido ao clube por três vezes naquele dia e perguntado pela vítima. Ele também falava ao celular antes dos disparos.

Em nota, a Secretaria de Defesa Social de Minas disse que a investigação sobre a morte de Carvalho foi encaminhada para o Departamento de Homicídios de Belo Horizonte.

Segundo a secretaria, uma equipe da delegacia já estava em Ipatinga desde a última semana para investigar a morte de Rodrigo Neto e outros 14 inquéritos de homicídios ocorridos na região --e que "possivelmente guardam relação de autoria e motivação".

Ainda de acordo com a secretaria, suspeitos de matar o repórter-fotográfico já foram identificados.

REPÚDIO

Em nota, o governador de Minas, Antônio Anastasia (PSDB), disse ter determinado à Polícia Civil uma "apuração rigorosa" do assassinato, "bem como maior celeridade nas investigações do crime que vitimou no mês passado o jornalista Rodrigo Neto".

Segundo o governador, as investigações também devem abranger as denúncias de que um grupo de extermínio estaria agindo na região.

"Não vamos tolerar que essas ações criminosas prosperem e nem que a liberdade de imprensa seja ameaçada em nosso Estado", finaliza a nota.

Organizações de imprensa também se manifestaram sobre o ocorrido. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas afirmou que o Estado deve intensificar as medidas do segurança "para deter a violência contra o direito de liberdade de expressão na região".

Em carta, o Comitê Rodrigo Neto, formado por jornalistas da região onde ocorreu o crime, disse que o assassinato de Carvalho "instalou o terror entre os jornalistas do Vale do Aço" e que a liberdade de expressão está ameaçada no local.

"Diante do cenário de impunidade e da falta de segurança, os profissionais de imprensa estão perplexos e temerosos sobre quem pode ser a próxima vítima, já que desde o assassinato de Rodrigo Neto nenhuma medida foi tomada para responsabilizar e prender os culpados, o que torna todos, indistintamente, alvos fixos na alça de mira dos assassinos", afirma.


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