Folha de S. Paulo


Estudei para ser 'elite' e não tinha tempo para 'rolezinho', diz leitor

Moro no Itaim Bibi e, portanto, segundo os padrões da juventude de "rolezinho", sou um privilegiado que pertence a uma elite exploradora e que goza de todos os privilégios de consumo da detestável burguesia.

Vou tentar simplificar como cheguei lá:

Desde os 17 anos me preparei, estudando horas a fio, para um vestibular de engenharia. Na minha época, não existiam Prouni e cotas e, em todo o estado de São Paulo, havia menos de 400 vagas. Passar no vestibular era para uma elite. Mas essa elite destacava-se pelo conhecimento e jamais pela cor da pele e condição social. Na época, a seleção era feita por meritocracia, palavra que virou palavrão na atual administração. Um detalhe: essa elite nunca teve tempo nem disposição para "rolezinhos".

Já na faculdade, com 18 anos, alem de estudar num curso com carga horária que, em alguns anos ultrapassava 40 horas por semana, lecionava em um ginásio à noite e num cursinho ao sábado à tarde. A partir do segundo ano, além das aulas, comecei a estagiar em empresas de engenharia.

Já formado, com 23 anos, trabalhei nas mais variadas atividades de engenharia, área em que continuo militando até os dias de hoje, na véspera de completar 70 anos.

Após meu resumidíssimo currículo, pergunto se gente como eu –existem milhões no Brasil– pode ser considerada uma elite privilegiada.

Toda essa história me veio à cabeça ao constatar, em recente pesquisa, que o número de jovens considerados "nem nem" (nem trabalham nem estudam) está aumentando significativamente.

Esses jovens têm tempo de sobra para "rolezinhos" e outras travessuras de mau gosto. Será este o tipo de jovem que vai conduzir o Brasil num futuro próximo?

Editoria de Arte/Folhapress

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