Folha de S. Paulo


Após viagem, leitor vê análises econômicas distantes da realidade do país

O articulista Janio de Freitas expressou exatamente o que eu vinha pensando em escrever à Folha, ao voltar das férias ontem, após tanto ler Alexandre Schwartsman, Vinicius Torres Freire, entre outros.

Embarquei em Porto Alegre no último sábado, onde encontrei um aeroporto abarrotado de turistas, a maioria de classe média e, a meu ver, média baixa. Voltavam do réveillon em Gramado e outras cidades da Serra Gaúcha.

No voo lotado, os olhares de pessoas de todas as idades, fotografando desde o avião até a si mesmas (os famosos "selfies"), para postar, talvez, a sua primeira viagem distante –um pacote com "aéreo, hotel e terrestre", quiçá parcelado em inúmeras prestações.

Eram brasileiros de todas as idades. Ao meu lado, uma senhora trouxera a mãe para conhecer Gramado e o Natal Luz, ambas aposentadas.

Marco Ambrosio-28.dez.13/Frame/Folhapress
Movimentação de passageiros no aeroporto de Congonhas em 28/12. Filas se formaram nos guichês das companhias aéreas
Movimentação de passageiros no aeroporto de Congonhas em 28/12. Filas se formaram nos guichês das companhias aéreas

Cada vez que me deparo com tal situação, fico surpreso, pois temos notícia de que a classe emergente já emergiu há anos, e uma viagem aérea já não deve ser novidade a ninguém por estas terras.

A total falta de planejamento e infraestrutura ficava evidente, desde o "puxadinho" que virou terminal exclusivo da TAM, até o ar condicionado quebrado do aeroporto de Congonhas, na chegada.

Tendo a experiência que acabo de narrar, a catástrofe iminente que esperamos ao ler analistas como os citados acima, Miriam Leitão, do "Globo", entre tantos outros, parece muitíssimo distante.

Ao contrário, a sensação de bem-estar dessa classe que há algum tempo vem aprendendo a consumir fica difícil de confrontar com o aperto do superavit primário, com a ameaça de estouro do dólar, com a retirada do QE (programa de incentivos à economia americana), com o caos que serão aeroportos e cidades da Copa sob protesto das massas, a iminente falência da Petrobras, etc.

Leio e pretendo continuar a ler os ilustres articulistas que mencionei, mas ao constatar o Vinícius Torres Freire especulando sobre eventuais protestos durante a Copa (seria para, caso venham a ocorrer, ele lembrar que previu?), percebo uma certa falta de conexão entre suas análises e a realidade.

É óbvio que os estudiosos, jornalistas especializados, devem nos mostrar a realidade de maneira que possamos compreendê-la, mas não consigo deixar de perceber nestes uma certa dose de ranço idealista pessoal, que acaba por diminuir o valor de suas análises, ou mesmo desconectá-las da realidade do país.

Curta o Painel do Leitor no Facebook
Siga o Painel do Leitor no Twitter

*

PARTICIPAÇÃO

Os leitores podem colaborar com o conteúdo da Folha enviando notícias, fotos e vídeos (de acontecimentos ou comentários) que sejam relevantes no Brasil e no mundo. Para isso, basta acessar Envie sua Notícia ou enviar mensagem para leitor.online@grupofolha.com.br


Endereço da página:

Links no texto: