Hoje estou triste, pois faleceu uma pessoa que muito me inspirou -- o brigadeiro Rui Moreira Lima.
Democrata de verdade, não para inglês ver, ele nunca deixou de lutar pela democracia, nem sob ameaça física.
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Arriscou sua vida tanto combatendo nazistas e fascistas durante a Segunda Guerra Mundial na Itália, como integrante da FAB, quanto durante o regime militar brasileiro, quando ficou preso três vezes.
Mesmo após 1985, ele lutou pela anistia completa dos militares cassados como membro e até presidente da Associação Democrática e Nacionalista dos Militares (Adnam).
Quando tive a honra de lhe tomar depoimentos, ele me contava como combatia os soldados alemães, e nós rimos quanto à situação especial: estávamos nós dois conversando; ele, um herói da Segunda Guerra Mundial, que depois foi vítima da ditadura brasileira; eu, uma pesquisadora alemã da terceira geração pós-nazista, pesquisando uma vítima do regime autoritário brasileiro.
Nina Schneider/Arquivo Pessoal | ||
O brigadeiro-do-ar Rui Moreira Lima, que lutou na Segunda Guerra Mundial e depois foi perseguido na Ditadura Militar, em sua casa em agosto de 2012. Ele morreu ontem, aos 94 anos |
O brigadeiro Rui Moreira Lima tinha uma cabeça muito aberta, argumentava com clareza, sempre armado com bons argumentos, e ao mesmo tempo nunca traiu suas grandes convicções: a democracia de verdade (justiça social incluída).
Em 1970, quando preso pela terceira vez, ele foi interrogado por um oficial do DOI-Codi no Rio e respondeu: "considero-me um liberal, democrata, incapaz de viver num regime no qual o povo não possa participar através das urnas, em votação direta e livre".
O Brigadeiro Rui Moreira Lima, associado com a ala militar nacionalista da esquerda, foi mais que um herói brasileiro. Ele foi um democrata convicto quem inspirou até os estrangeiros.
Democracia de verdade não conhece fronteiras, e pessoas corajosas com caráter e postura são raras e admiradas no mundo inteiro.
Um abraço à Dona Julinha e ao Pedro.
Nina Schneider é pesquisadora pela União Europeia na Universidade de Konstanz, na Alemanha, e doutora em História pela Universidade de Essex, na Inglaterra. Estuda, entre outros temas, as políticas de memória e reparação em países que viveram regimes autoritários.
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