Folha de S. Paulo


10/11/2012 - 09h00

Para leitor, Brasil tem medo de Romney

LEITOR CAETANO NEGRÃO
DE CURITIBA (PR)

Nesses últimos dois meses de campanha eleitoral norte americana, não encontrei mais de um brasileiro que votaria em Mitt Romney.

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Em um país em que a grande maioria ainda aplaude um ex-­presidente que afirma categoricamente que o mensalão é uma "invenção dos inimigos", tal fato parece merecer uma reflexão ou duas.

Barack Obama é símbolo de uma conquista importante. Pode ser considerado como o efeito de longo prazo de uma duríssima e corajosa batalha travada acerca dos direitos civis nos Estados Unidos dos anos 60.

O primeiro presidente negro da história dos EUA parecia ser mais pacífico, mais simpático e mais atencioso aos pobres e às mudanças sociais necessárias. Obama queria implantar um sistema de saúde mais acessível. Queria retirar as tropas. Foi imensamente aplaudido mundo afora. A era Bush havia acabado. O imperialismo ignorante iria cessar.

E o raciocínio é que, com todos esses atributos positivos, se ele não conseguiu, entre outras coisas, melhorar a economia e a situação da população, retirar as tropas completamente e nem consolidar de fato o novo plano de saúde, a culpa não pode ser dele.

No entanto, a polarização (colocando democratas como mocinhos e republicanos como bandidos) nos cega. Não devemos esquecer que a crise imobiliária não pode de maneira nenhuma ser considerada somente como herança republicana já que, de fato, a lista de nomes acusados de "gerenciar" a bolha a seu próprio benefício revela muitos famosos democratas.

E mesmo se fosse, a equipe de Obama, quando assumiu, teve plenas condições de dar um basta nos métodos inescrupulosos vigentes. Coisa que não fez.

Jason Reed - 02.mai.11/Reuters
O presidente americano Barack Obama durante anuncio da morte de Osama Bin Laden, em maio de 2011
O presidente Barack Obama durante anuncio da morte de Osama Bin Laden, em maio de 2011

É interessante verificar que muitos consideram a possível volta dos republicanos à tudo que há de ruim nos Estados Unidos. À cultura de morte e ao militarismo excessivo, por exemplo.

Parecem esquecer que o Obama pacífico se regozija frequentemente por ter matado Osama Bin Laden. Coisa que, como a contundente militante Naomi Wolf apontou, foi ilegal.

A equipe do Obama pacífico passou por cima do governo paquistanês e orgulhosamente aniquilou o seu inimigo, ao invés de capturá-lo, como mandaria a conduta de guerra nesse caso. Coisa que, aliás, o republicano governo de Bush fez em 2004 com Sadam Hussein.

Talvez essa natureza vingativa nem seja própria de Obama. Mas ao ceder a isso, mostra que seu posicionamento é, infelizmente, duvidável.

O fato de o presidente afirmar, nas eleições, que a Venezuela não apresenta qualquer conflito de interesses com os Estados Unidos é estarrecedor. Ou é fraqueza, ou é atitude que cede ao eleitorado latino crescente no país.

Pois um país que têm um controle da mídia da maneira que o governo chavista o tem, que instala uma democracia dúbia, ataca abertamente os Estados Unidos e se recusa a ter um mínimo de bom senso em relação à economia e à diplomacia, só não teria conflito de interesses com os EUA na época em que o mesmo não existia.

Portanto, é preciso não mitificar a figura do presidente e analisar profundamente cada governo.

Muitos fatos como esses podem e devem ser trazidos à tona para reflexão e análise além da superficialidade cotidiana.

É claro que o leitor atento sabe que as respostas não estão necessariamente do outro lado, com os republicanos, mas deve sim procurar livrar-­se do medo ideológico.

O partido Republicano é vasto e já contribuiu com presidentes exemplares. O partido Democrata também é composto de pessoas com interesses diversos e não necessariamente generosos e altruístas.

Devemos olhar além, lembrar que a oposição é sempre forte nos Estados Unidos e avaliar que tipo de líder o país referência do mundo está elegendo.


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