Folha de S. Paulo


Coleção Folha apresenta o empirismo de John Locke

Chega às bancas no próximo domingo (16) o primeiro esboço da obra em que John Locke (1632-1704) sistematizou o empirismo. "Draft A do Ensaio sobre o Entendimento Humano", 14º volume da Coleção Folha Grandes Nomes do Pensamento, expõe as principais ideias do filósofo num estilo conciso e direto.

Para o fundador do liberalismo clássico, o nosso conhecimento nasce da experiência. Um eco de sua doutrina pode ser encontrado na poesia de Alberto Caeiro (heterônimo de Fernando Pessoa): "Sou um guardador de rebanhos. O rebanho é os meus pensamentos. E os meus pensamentos são todos sensações".

Segundo Locke, os sentidos nos fornecem ideias simples, como "de calor e luz, de duro e mole", que consistem na reprodução do impacto que tais objetos causaram em nós.

É do contato com a realidade que brotam os conceitos. O escritor Elias Canetti observa que a ideia de recipiente nasceu de coletar água com a mão: "Cascas vazias de frutas como o coco existiam, é certo, havia muito tempo, mas eram jogadas fora sem que se lhes prestasse atenção. Somente os dedos, formando um oco para coletar a água, tornaram realidade os recipientes".

Como os conceitos partem da experiência, a verdade possui uma existência objetiva, já que ela reside fora de nós: "Eu gostaria que um cético, que duvida de que o vidro que acaba de deixar a fundição realmente existe, o tocasse com as mãos. Essa evidência é tão grande quanto poderíamos desejar, é tão certa para nós quanto o nosso prazer ou dor, quanto a nossa felicidade ou miséria. Para além disso, o conhecimento e o ser não nos concernem", diz Locke.

A experiência humana, contudo, não se esgota nas sensações: existe também uma experiência do próprio pensamento, que combina essas ideias simples em representações complexas.

Mas, como a verdade descansa no nosso relacionamento com o real, o conhecimento se torna mais obscuro quando nos distanciamos dos objetos: "As ideias simples se encontram no entendimento com tamanha clareza, distinção e perfeição que nunca são tomadas umas pelas outras".

Nunca confundimos calor com frio, ou luz com escuridão. Mas, à medida que combinamos as noções simples em conjuntos complexos, surgem ambiguidades e imperfeições. Daí as disputas entre os homens.


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