Folha de S. Paulo


Leitores divergem de artigo sobre orientação religiosa de Marina Silva

Magnífico o artigo "Desvendando Marina" (Tendências/Debates, 31/8), em que Rogério Cezar de Cerqueira Leite mostra que o fundamentalismo religioso de Marina Silva pode influir negativamente no bem-estar da população. Ela representa o atraso já materializado no recuo do apoio às lutas por direitos dos homossexuais. Espero que a candidata não ganhe esta eleição.

PAULO VENTURELLI, professor da Universidade Federal do Paraná (Curitiba, PR)

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Cerqueira Leite destilou um fundamentalismo às avessas. Qualificou o "fundamentalismo" de Marina como um "defeito de percepção" chamado "desordem de desenvolvimento neural". Soa arrogante impingir tal diagnóstico apenas em razão da fé professada por alguém. Talvez ele sinta-se superior em relação à maioria da população brasileira, que professa o cristianismo. Seríamos portadores dessa "desordem neural" apenas porque cremos em um Deus criador? Ser fundamentalista é não respeitar o direito dos outros de pensar diferente.

SAULO MESQUITA, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de Goiás (Goiânia, GO)

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Esclareci as minhas dúvidas sobre minha resistência à candidata. Apesar de admirá-la, como sua razão está aquém de suas crenças religiosas, nunca saberei até onde esta razão irá.

BARTIRA MARTINS SILVA (São Paulo, SP)

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Cerqueira Leite desautoriza a candidatura de Marina, cidadã brasileira em plena capacidade de suas funções. O argumento da "desordem neural" é perigoso, nefasto e que faz uso descontextualizado de alguma pesquisa neurológica com fins ideológicos. O criacionismo da candidata deve ser questionado e combatido, mas jamais sob o risco de atribuir falha orgânica a qualquer pessoa, grupo, etnia ou crença.

MARA SELAIBE, psicanalista (São Paulo, SP)

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A reportagem "Marina ganhou R$ 1,6 mi com palestras em três anos" ("Poder", 31/8) não surpreende. Ela simplesmente vem aumentando sua popularidade como articuladora oral, seguindo o modelo de FHC, que também fatura milhões como palestrante.

JOSÉ CARLOS SOARES DE CARVALHO (São Paulo, SP)

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Um diagnóstico tão particular obtido de dados tão gerais, evidencia mais a incompetência do autor que qualquer característica do diagnosticado. Como o currículo científico do autor é impecável, o provável é que a frustração das "favas contadas" de quem ele queria que ganhasse a eleição o transformasse em metafísico para explicar quem ele não quer que ganhe a eleição.

ELI LEIB STERN (São Paulo, SP)

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Repugnante a posição expressa por Cerqueira Leite. Sob o pretexto de criticar a crença criacionista de Marina Silva, o físico recorre a argumentos científicos, atribuindo às convicções da candidata caráter desviante, patológico, de base orgânica, "uma desordem do desenvolvimento neural", segundo ele. A política brasileira é mesmo surpreendente: até o fundamentalismo científico pode ser usado a serviço da manipulação eleitoral.

ROGÉRIO PIRES (São Paulo, SP)

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Cerqueira Leite se propõe a desvendar Marina para quem? Não é para aqueles que acreditam no criacionismo. É apenas a opinião pessoal do autor? Acho que não. Ele está a fim de desvendá-la para os seus eleitores mais esclarecidos, aqueles que ele diz que votam nela com inquietação. Logo no primeiro parágrafo ele menciona o interlocutor: cidadãos bem-intencionados, mas que consciente ou inconscientemente, preferem que ela perca. Perda de tempo: sua argumentação nesse caso de nada serve e eles continuarão votando na Marina e esperando que ela perca.

FÁBIO CARVALHO HANSEM (São Paulo, SP)

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Cansamos de ler e ouvir que o Estado é laico, ou seja, que deve manter-se neutro não se intrometendo em religião, respeitando-se os crentes e não crentes. Aí vem Cerqueira Leite, com tantos títulos no currículo, provavelmente merecidos, e publica "Desvendando Marina", em que diz: "Não me sinto confortável em ter como presidente uma pessoa que acredita que o Universo foi criado em sete dias há apenas 4.000 anos." Desculpe sr. Rogério, sou professor aposentado e não tenho os títulos que o sr. tem, mas o seu fundamentalismo é tão, ou mais, arrogante que o fundamentalismo cristão que o sr. condena. Na nossa idade, sabemos que acreditar ou deixar de acreditar em criacionismo ou evolucionismo é uma questão de crença. Na verdade, e o senhor deve saber disso, muitos cientistas já aceitam que as duas crenças se completam. Portanto, deixe as suas teorias "científicas" de lado e exerça o seu direito de voto, muito embora na nossa idade o voto seja facultativo. Mas, vote nas qualidades do candidato e não nas suas crenças ou descrenças religiosas.

ANTONIO SUCENA BONIFACIO (Brotas, SP)

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Cerqueira Leite expressa uma visão apenas científica. Mas a história nos mostra bons exemplos das "necessidades" políticas que podem acabar bem. Harry Truman e William Fulbright eram senadores que notoriamente votaram contra medidas de direitos civis para poderem ser reeleitos nos seus Estados conservadores, mas quando se encontraram com poder para fazer o bem, fizeram. Truman, como presidente, aboliu a segregação racial nas forças armadas americanas, e Fulbright criou um grande programa global e intercultural de intercâmbio acadêmico. John Kennedy, católico devoto num país majoritariamente protestante, conseguiu separar sua crença pessoal da administração do país, assim mostrando que era possível evitar o grande medo do Tocqueville nas democracias: a tirania da maioria, prática ainda não erradicada no Brasil, onde casas legislativas e tribunais de Justiça exibem crucifixos.

FREDRIC M. LITTO (São Paulo, SP)

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