Folha de S. Paulo


Vinda de médicos estrangeiros é o início de mudanças estruturais, defende leitor

Ao ler a resposta do presidente do CFM (Conselho Federal de Medicina), o Dr. Roberto Luiz d'Avila, à pergunta "O Brasil precisa de médicos estrangeiros?" na coluna Opinião da Folha, fiquei revoltado com o tom irônico e evasivo de sua resposta, que tentava a todo o tempo desqualificar a proposta da vinda de médicos estrangeiros em vez de propor alternativas para provimento de médicos em áreas onde esses profissionais não existem.

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Temos no Brasil 33.000 equipes de saúde da família, entretanto, pouco mais de 20.000 delas possuem médicos compondo a equipe. O governo tentou atrair médicos por meio do Provab (Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica), com salários elevados, suporte das universidades e bonificação para concorrer às provas de residência, mas apenas cerca de 4.000 médicos aderiram ao programa.

O que fazer com toda essa população que não tem assistência médica? A não vinda de médicos estrangeiros resolve as questões estruturais ou seria essa vinda um passo inicial para que ocorram também as mudanças estruturais?

Como professor do curso de medicina da UFPB (Universidade Federal da Paraíba) e supervisor do Provab, tenho visto a qualificação da assistência nos municípios menores com a chegada desses médicos, mas também uma tensão para as mudanças estruturais tão cobradas pelas entidades médicas.

Editoria de Arte/Folhapress

Ou seja, onde antes havia um vazio de assistência há hoje um território repleto de projetos em disputa (gestão, universidade, médicos, população) para qualificação do sistema, mas principalmente consigo ver a satisfação da população por estar se sentindo cuidada.

Que venham os médicos estrangeiros e continuem a preencher esses vazios, produzindo novos olhares sobre os problemas, disputando novas soluções, mas, sobretudo, produzindo cuidado para nossa população.

Alexandre José de Melo Neto é médico de família e comunidade, terapeuta familiar e de casal, professor do Departamento de Promoção da Saúde do Centro de Ciências Médicas da Universidade Federal da Paraíba (DPS/CCM/UFPB) e regulador do Telessaúde


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