Folha de S. Paulo


FRANCISCO BALESTRIN

É preciso planejar o hospital do futuro

Eduardo Knapp/Folhapress
ORG XMIT: 404801_1.tif O médico Eduardo Cordioli, de 32 anos, especializado em Medicina Fetal, faz exame de ultrassom com imagem em 3D na paciente Grasiele Olszewski, de 25 anos, grávida de uma menina de 5 meses e uma semana, no centro de Diagnósticos do Hospital Santa Joana, em São Paulo (SP). (São Paulo (SP). 24.10.2006. Foto de Eduardo Knapp/Folhapress)
Exame de ultrassom 3D em gestante, em hospital de São Paulo

Hoje, sem dúvida nenhuma, os hospitais são um dos elos mais respeitados no sistema de saúde. Não é por acaso, que, diariamente, as emergências, tanto da rede pública quanto da privada, recebem pacientes que deveriam estar sendo atendidos em outro elo da cadeia.

É preciso destacar que o hospital é o local onde se fazem as maiores intervenções de saúde nos indivíduos com situação de agravo à saúde, de média e alta complexidade. Mas a confiança que a população tem na rede hospitalar, somada aos problemas estruturais do setor, faz com que a unidade receba todos os tipos de paciente.

Porém, essa confiança sobre os hospitais nem sempre foi assim. Na Europa, durante a Idade Média, eles eram lugares primeiramente com função religiosa e de caridade —locais de hospitalidade e de "bem-morrer". Até o século 19, o hospital era um local perigoso.

Felizmente, esse cenário mudou, pois os hospitais evoluem com a sociedade. Os hospitais antigos estavam desconectados da pesquisa científica, apenas acolhiam doentes. Os primeiros registros de instituições dedicadas a promover curas, por exemplo, remontam ao Egito Antigo. E os Templos ao deus Esculápio na Grécia e em Roma registram esboços do que viriam a ser os hospitais, pois lá eram oferecidos conselhos médicos, prognósticos e curas.

A ciência e o avanço da medicina transformaram o papel e imagem dos hospitais. Porém, as mudanças não param, as instituições estão em constantes transformações.

Os avanços em tratamentos e diagnósticos, a presença cada vez maior da robótica da medicina e a mudança da pirâmide etária do país exigem um novo perfil de hospital. Mas será que nossos hospitais estão preparados para lidar com a mudança de paradigmas?

Hoje, o governo admite que a saúde enfrenta enormes desafios, como o do crescimento dos custos e o impacto da longevidade, mas pouco fala sobre as necessidades da rede hospitalar em se adequar aos novos paradigmas.

No entanto, pode até soar como utópico falar em hospital do futuro, quando ainda hoje um dos principais desafios da saúde no país é o acesso. O Brasil não consegue nem cumprir a indicação mínima da OMS de 3 leitos por mil habitantes. Hoje, o país tem 2,4 leitos por mil habitantes. Japão e Alemanha, por exemplo, tem média de 13,7 e 8,2 leitos para 1000 habitantes, respectivamente.

Precisamos permitir que a pessoa chegue ao sistema de saúde. Uma vez que isso acontece, que seja um atendimento num ambiente adequado, do ponto de vista de tecnologia, formação do médico, atenção e organização. Tendo o atendimento, que seja em um ambiente de qualidade e segurança assistencial. Oferecer atendimento sem condições básicas é irresponsável. É preciso garantir a segurança do paciente.

Porém, é preciso pensar nos novos paradigmas, com o risco de chegar daqui a 20, 30 anos e termos uma rede hospitalar inteiramente desconectada do que estará acontecendo nos grandes centros.

O futuro caminha para um cenário marcado por hospitais organizados em rede, que alcançam o paciente fora de seu ambiente, principalmente em casa, no trabalho e no dia a dia, usando aplicativos. Também serão especializados, nos quais os profissionais vão estar dedicados não somente aos pacientes, mas também no desenvolvimento de novas tecnologias e novos processos. E são instituições que terão o que chamamos de estruturas abertas: acessíveis para a sociedade como um todo, para o desenvolvimento científico e educacional.

FRANCISCO BALESTRIN é presidente da Associação Nacional dos Hospitais Privados (Anahp) e da International Hospital Federation (IHF)

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