Folha de S. Paulo


DAVID DIESENDRUCK

Os 70 anos da partilha da Palestina

Hans Pin/Israeli Government Press Office REUTERS
Em 1947, judeus comemoram resolução da ONU que determina a divisão da Palestina e a criação do Estado de Israel. *** Jews celebrate in the streets of Tel Aviv moments after the United Nations voted on November 29, 1947 to partition Palestine, which paved the way for the creation of the State of Israel on May 15, 1948. The Jewish state begins this coming week a year of celebration marking its 50th anniversary.
Em 1947, judeus celebram resolução da ONU que determina a divisão da Palestina e a criação de Israel

Há exatos 70 anos, em 29 de novembro de 1947, a Assembleia-Geral das Nações Unidas aprovou a partilha da Palestina em dois Estados, um árabe e um judaico.

Muitas vezes, a data é apresentada como marco zero do conflito entre árabes e judeus. Com o passar dos anos e o distanciamento dos fatos que a memória pode alcançar, torna-se ainda mais necessário problematizar tal narrativa.

Afinal, a violência na região havia começado décadas antes. Em agosto de 1929, por exemplo, mais de 60 judeus foram assassinados, casas e sinagogas foram saqueadas, no evento conhecido como "massacre de Hebron".

Desde fins do século 19, há registros de tensões e chacinas na terra chamada ora de "Palestina", ora de "Eretz Israel".

Na memória coletiva de árabes palestinos e de judeus sionistas, aquela terra representava bem mais que um território desértico, sem recursos naturais e infértil; para ambos os povos, a terra representava a pátria-mãe, seu solo ancestral e destino nacional. O conflito surge do embate entre dois nacionalismos que sonham com a mesma terra.

Para tornar as coisas mais complexas, o território era controlado pelo Reino Unido, potência imperialista que sufocava nacionalismos em emergência nas terras sob sua administração.

Durante os anos de domínio britânico, a potência mandatária buscou manter certo equilíbrio e atuava de maneira ambígua, declarando simpatia pelo movimento judaico (Declaração Balfour) ao mesmo tempo em que limitava a entrada de judeus no território (Livro Branco).

Muitas foram as propostas para resolver o conflito: um Estado binacional, uma Federação e o próprio prolongamento do Mandato Britânico. Nenhuma dessas ideias foi adiante.

Em 1937, uma comissão britânica (Peel Comission), reconhecendo os dois nacionalismos e a legitimidade de suas aspirações à independência, aventou a ideia de dividir o território, formando um Estado árabe e outro judaico. A rejeição da proposta pela liderança árabe de então fez com que o projeto fosse engavetado.

Com o agravamento da violência e a eclosão da Segunda Guerra Mundial, que ceifou a vida de 6 milhões de judeus europeus, a questão foi encaminhada às Nações Unidas. Novamente, uma comissão recomendou a divisão do território em dois Estados. Um Estado árabe e um Estado judaico.

Em 29 de novembro de 1947, a proposta foi votada e aprovada pela Assembleia-Geral. Foram 33 votos a favor, 13 contra e 10 abstenções. As duas potências vitoriosas na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), Estados Unidos e União Soviética, votaram favoravelmente à proposta da partilha.

Países como Egito, Irã e Iraque votaram contra. O Brasil não só votou a favor como teve papel de destaque: a sessão foi presidida pelo diplomata brasileiro Oswaldo Aranha.

Meses depois, Israel declarou sua independência. Em resposta, Iraque, Líbano, Síria, Egito e Jordânia iniciaram uma guerra ao recém-criado Estado judaico. Como consequência do conflito, Egito e Jordânia ocupam, até 1967, quase todo o território em que seria estabelecido o Estado palestino. Israel também expande as suas fronteiras.

Até hoje a Organização das Nações Unidas defende a posição de dois Estados para solução do conflito entre israelenses e palestinos. Essa é, também, a posição histórica do Brasil.

Setenta anos depois, a partilha da Palestina ainda parece ser a melhor solução para resolver o impasse entre árabes e judeus (hoje, israelenses e palestinos), formando-se dois Estados que possam conviver lado a lado em paz e segurança.

DAVID DIESENDRUCK, administrador de empresas, é presidente do Instituto Brasil-Israel

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