Há exatos 70 anos, em 29 de novembro de 1947, a Assembleia-Geral das Nações Unidas aprovou a partilha da Palestina em dois Estados, um árabe e um judaico.
Muitas vezes, a data é apresentada como marco zero do conflito entre árabes e judeus. Com o passar dos anos e o distanciamento dos fatos que a memória pode alcançar, torna-se ainda mais necessário problematizar tal narrativa.
Afinal, a violência na região havia começado décadas antes. Em agosto de 1929, por exemplo, mais de 60 judeus foram assassinados, casas e sinagogas foram saqueadas, no evento conhecido como "massacre de Hebron".
Desde fins do século 19, há registros de tensões e chacinas na terra chamada ora de "Palestina", ora de "Eretz Israel".
Na memória coletiva de árabes palestinos e de judeus sionistas, aquela terra representava bem mais que um território desértico, sem recursos naturais e infértil; para ambos os povos, a terra representava a pátria-mãe, seu solo ancestral e destino nacional. O conflito surge do embate entre dois nacionalismos que sonham com a mesma terra.
Para tornar as coisas mais complexas, o território era controlado pelo Reino Unido, potência imperialista que sufocava nacionalismos em emergência nas terras sob sua administração.
Durante os anos de domínio britânico, a potência mandatária buscou manter certo equilíbrio e atuava de maneira ambígua, declarando simpatia pelo movimento judaico (Declaração Balfour) ao mesmo tempo em que limitava a entrada de judeus no território (Livro Branco).
Muitas foram as propostas para resolver o conflito: um Estado binacional, uma Federação e o próprio prolongamento do Mandato Britânico. Nenhuma dessas ideias foi adiante.
Em 1937, uma comissão britânica (Peel Comission), reconhecendo os dois nacionalismos e a legitimidade de suas aspirações à independência, aventou a ideia de dividir o território, formando um Estado árabe e outro judaico. A rejeição da proposta pela liderança árabe de então fez com que o projeto fosse engavetado.
Com o agravamento da violência e a eclosão da Segunda Guerra Mundial, que ceifou a vida de 6 milhões de judeus europeus, a questão foi encaminhada às Nações Unidas. Novamente, uma comissão recomendou a divisão do território em dois Estados. Um Estado árabe e um Estado judaico.
Em 29 de novembro de 1947, a proposta foi votada e aprovada pela Assembleia-Geral. Foram 33 votos a favor, 13 contra e 10 abstenções. As duas potências vitoriosas na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), Estados Unidos e União Soviética, votaram favoravelmente à proposta da partilha.
Países como Egito, Irã e Iraque votaram contra. O Brasil não só votou a favor como teve papel de destaque: a sessão foi presidida pelo diplomata brasileiro Oswaldo Aranha.
Meses depois, Israel declarou sua independência. Em resposta, Iraque, Líbano, Síria, Egito e Jordânia iniciaram uma guerra ao recém-criado Estado judaico. Como consequência do conflito, Egito e Jordânia ocupam, até 1967, quase todo o território em que seria estabelecido o Estado palestino. Israel também expande as suas fronteiras.
Até hoje a Organização das Nações Unidas defende a posição de dois Estados para solução do conflito entre israelenses e palestinos. Essa é, também, a posição histórica do Brasil.
Setenta anos depois, a partilha da Palestina ainda parece ser a melhor solução para resolver o impasse entre árabes e judeus (hoje, israelenses e palestinos), formando-se dois Estados que possam conviver lado a lado em paz e segurança.
DAVID DIESENDRUCK, administrador de empresas, é presidente do Instituto Brasil-Israel
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