Folha de S. Paulo


editorial

Obras cortadas

Eduardo Knapp - 13.mar.2017/Folhapress
Salgueiro, PE, BRASIL, 13-03-2017: ***Especial transposicao do rio Sao Francisco***. Urubus sobrevoam obra parada do canal de transposicao do rio Sao Francisco do eixo norte na cidade de Salgueiro PE. Esse trecho da obra eh de responsabilidade da construtora Mendes Junior, envolvida nas investigacoes da Lava Jato (Foto: Eduardo Knapp/Folhapress, PODER).
Urubus sobrevoam obra parada do canal de transposição do rio São Francisco em Pernambuco

Entre os efeitos mais deletérios das crises orçamentárias brasileiras estão os cortes e interrupções de investimentos —que incluem obras de infraestrutura e compra de máquinas e equipamentos.

Não seria diferente no atual cenário de penúria, o mais grave desde que o Plano Real, em 1994, conferiu alguma normalidade aos balanços do Tesouro Nacional.

Em valores corrigidos, os investimentos federais somaram R$ 52,3 bilhões nos últimos 12 meses, o que representa uma queda brutal ante os R$ 95,5 bilhões contabilizados em 2014, ano de maior desembolso desde o fim da hiperinflação.

Trata-se de um fenômeno recorrente: como a maior parte do Orçamento fica comprometida com despesas obrigatórias como aposentadorias e salários, o ajuste imediato se dá nos serviços para a população e nos projetos de longo prazo.

Sem reformas, a começar pela previdenciária, o problema será acentuado nos próximos anos, a ponto de inviabilizar o funcionamento do governo.

Nos Estados, a situação se afigura ainda mais dramática. No ano passado, as despesas com pessoal ativo e inativo consumiram, em média, 55% da receita (ultrapassando a casa dos 70% no Rio de Janeiro e em Minas Gerais).

No período de 12 meses encerrado em junho, os investimentos não passaram de 0,4% do Produto Interno Bruto —o montante chegava a 1% em 2014.

Tal estratégia de poupança, que implica paralisações e atrasos de obras, é insustentável e gerará custos extras no futuro para sanar as deficiências da infraestrutura nacional. Por outro lado, mostra-se necessário também repensar a forma como o poder público conduz essa modalidade de gasto.

Há que reconhecer, de início, que nem todo projeto é virtuoso; muito dinheiro se perde em corrupção, desperdício e mau planejamento. Outra parte das tarefas pode ser transferida à iniciativa privada, por meio de concessões ou da venda de estatais.

Nada eliminará, porém, a necessidade de redesenhar o Orçamento, conter a expansão das despesas obrigatórias e permitir maior margem de manobra aos gestores.

editoriais@grupofolha.com.br


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