Folha de S. Paulo


DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA/CIDA BENTO E CAIO MAGRI

Consciência negra e a urgência de integrar empresas a essa causa

Rogério Padula/Futura Press/Folhapress
SÃO PAULO,SP,24.06.2016:ROTESTO ESTUDANTES E COLETIVOS NEGROS USP - Estudantes da USP de e coletivos negros da USP, realizam na noite desta sexta-feira (24), ato reivindicando cotas no vestibular FUVEST, em São Paulo (SP). (Foto: Rogério Padula/Futura Press/Folhapress) *** PARCEIRO FOLHAPRESS - FOTO COM CUSTO EXTRA E CRÉDITOS OBRIGATÓRIOS ***
Estudantes de coletivos negros da USP realizam manifestação por mais igualdade, em São Paulo

No mês da Consciência Negra reacende-se a importante discussão sobre diversidade racial dentro das empresas. Os números do Brasil são pouco animadores e mostram que caminhamos a passos lentos frente à forte exclusão de negras e negros em posições de comando nas grandes corporações brasileiras
.
Segundo o Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 maiores empresas do país, publicação do Instituto Ethos e BID, a proporção de negros nas empresas é muito inferior à de brancos, 35,7% contra 62,8%, apesar de representarem a maior parte da população, 53%. Os negros são maioria apenas em posições de aprendizes e trainees.

A tendência de sub-representação aumenta quando são focalizados os cargos mais altos. Entre os gerentes, os negros são apenas 6,3%, comparados aos 90,1% de brancos; nas posições executivas, ocupam 4,7%; e nos conselhos de administração, apenas 4,9%. A situação de exclusão das mulheres negras é ainda mais gravosa, representando apenas 0,4 % do quadro executivo.

Algumas pesquisas recentes de renomadas fontes como Harvard Business Review, American Sociological Review, McKinsey & Company e revista "Forbes", indicam o fortalecimento das empresas que apostam na diversidade de gênero e raça, em seu quadro de colaboradores.

O relatório "A Distância que nos Une", publicado e divulgado pela Oxfam em 2017, mostra que no Brasil 67% dos que recebem até 1,5 salário mínimo são negros —cerca de 80% das pessoas negras ganham até dois salários mínimos e, para cada negro com rendimentos acima de 10 salários mínimos, há quatro brancos.

O relatório ainda salienta que, caso seja mantido o ritmo de inclusão de negros que observamos na sociedade brasileira hoje, a equiparação da renda média com a dos brancos ocorrerá somente em 2089.

Diagnóstico similar ao universo do mercado de trabalho, de acordo com o Perfil Social do Instituto Ethos, caso se mantenha o atual status, a igualdade racial no ambiente de trabalho só será alcançada em 150 anos, e a de gênero em 80 anos.

Pensando na urgência de transformar esse cenário, foi criada a Coalizão Empresarial para Equidade Racial e de Gênero, uma iniciativa do Instituto Ethos, do Ceert (Centro de Estudos das Relações do Trabalho e Desigualdades) e parceiros, que já conta com o engajamento de diversas empresas.

Neste mês da "Consciência Negra", está sendo lançado o site www.equidade.org.br, que trará um Banco de Práticas sobre equidade racial e de gênero, com exemplos de algumas organizações.

Ao compartilhar boas práticas pretende-se inspirar outras empresas, seja com a coleta de dados de "raça/cor" de maneira qualificada, com o estímulo à contratação de negros ou processos de capacitação de equipes de trabalho sobre o tema, ou ainda o desenvolvimento de produtos e serviços específicos para mulheres negras e campanhas de marketing, entre outras ações.

Também encontra-se disponibilizado no site os "Indicadores Ethos-Ceert pela Equidade Racial e de Gênero", uma ferramenta de gestão para diagnosticar e contribuir na evolução dessas políticas e práticas nas empresas.

Para além dos discursos de diversidade, precisamos incorporar a pauta de forma transversal e encarar o desafio de reduzir a desigualdade no Brasil, tornando o tema presente na prática empresarial. Criar ambientes organizacionais mais plurais pode trazer novas perspectivas para o futuro e soluções para os velhos problemas que enfrentamos como nação.

Somos um país campeão em desigualdade, que enfrenta grandes dificuldades para superar a violência, mas precisa assegurar os direitos humanos e avançar em relação à verdadeira sustentabilidade socioambiental.

CIDA BENTO é fundadora e diretora executiva do Centro de Estudos das Relações do Trabalho e Desigualdades (Ceert)
CAIO MAGRI é diretor-presidente do Instituto Ethos

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