Folha de S. Paulo


editorial

Diplomacia à Trump

Kham/AFP
TOPSHOT - US President Donald Trump and Vietnam's President Tran Dai Quang attend a press conference at the Presidential Palace in Hanoi on November 12, 2017. Trump arrived in the Vietnamese capital on November 11 after attending the Asia-Pacific Economic Cooperation (APEC) Summit leaders meetings earlier in the day in Danang. / AFP PHOTO / POOL / KHAM ORG XMIT: GGGHAN17
O presidente americano, Donald Trump, e o vietnamita Tran Dai Quang, em Hanoi

Dadas as expectativas em torno da atuação do presidente Donald Trump em sua recém-concluída visita à Ásia, não pairam muitas dúvidas de que ele as cumpriu.

Entretanto, quando se trata de o mandatário confirmar o que dele se espera em termos de diplomacia, os benefícios colhidos para os EUA são, quando muito, incertos.

A passagem de 12 dias por cinco nações asiáticas (Japão, Coreia do Sul, China, Vietnã e Filipinas) lhe serviu para reforçar o discurso do protecionismo comercial —a ponto de Pequim, um dos alvos prediletos do trumpismo, receber elogios por "tirar vantagem de outro país [os Estados Unidos] para o bem de seus próprios cidadãos".

Por sua vez, o líder chinês, Xi Jinping, voltou a defender o livre-comércio e o multilateralismo, tal como já fizera no Fórum Econômico Mundial. Ainda que mantenha intocada a repressão política interna, Xi tem conseguido lustrar a imagem de dirigente moderno e aberto ao mundo —trabalho bastante facilitado por Trump.

Acerca da ameaça representada pela militarização nuclear da Coreia do Norte, o chefe da Casa Branca parece ter delegado de vez aos chineses a primazia na tarefa de conter o ditador Kim Jong-un.

Em certa medida, vê-se uma positiva e pragmática admissão de que não há como prescindir do peso de Pequim nas negociações com o problemático vizinho. Persistem, contudo, as provocações pueris: na mais recente, Kim referiu-se ao líder americano como "velho", e este retrucou que não o chamaria de "baixinho e gordo".

O tour reservou ainda mais um encontro com Vladimir Putin, no Vietnã. Novamente, Trump demonstrou sua admiração pelo presidente russo ao dizer que recebeu dele a garantia de que não houve interferência de Moscou nas eleições americanas de 2016 —e que não teria por que desconfiar.

A declaração provocou, outra vez, insatisfação das agências de inteligência a serviço da Casa Branca, para as quais abundam evidências da ação de hackers russos na tentativa de prejudicar a rival democrata Hillary Clinton na disputa.

O republicano tentou contornar o mal-estar. Afirmou acreditar no trabalho de seus agentes, mas esquivou-se da flagrante contradição de, ainda assim, dar crédito às palavras de Putin.

Em uma visão otimista, a viagem internacional mais longa do presidente até agora terminou sem trazer aos EUA nenhum novo atrito com outro país. Enquanto Trump permanecer em seu casulo nacionalista, porém, cobrar mais do que isso está além das possibilidades.

editoriais@grupofolha.com.br


Endereço da página:

Links no texto: