Folha de S. Paulo


editorial

Mudança no esporte

Diego Padgurschi-1º.ago.2016/Folhapress
RIO DE JANEIRO, RJ, 01.08.2016: RIO-2016 - Aros Olímpicos na praia de Copacabana na zona sul do Rio de Janeiro. (Foto: Diego Padgurschi/Folhapress)
Arcos Olímpicos na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro

A prisão preventiva de Carlos Arthur Nuzman e sua previsível renúncia ao cargo de presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB) deram mais uma vez visibilidade ao descalabro na gestão de entidades esportivas que tem longeva tradição no Brasil.

Nuzman —acusado de participar da compra de voto de representante do Comitê Olímpico Internacional (COI) para assegurar a vitória da candidatura do Rio, entre outros ilícitos, que nega— assumiu o COB em 1995, ungido pela vitória do vôlei brasileiro na Olimpíada de Barcelona, em 1992.

À frente da confederação daquela modalidade, projetou-se no meio esportivo como um dirigente modernizador, que representava a passagem do modelo decadente e carcomido da ditadura militar para um padrão mais condizente com os novos tempos.

Ideias mais arejadas não bastaram, porém, para promover mudanças significativas. Nuzman manteve-se no cargo por mais de duas décadas aproveitando-se de um sistema que permitia sucessivas reeleições em um colégio eleitoral facilmente manipulável.

Na mais recente recondução, em 2016, para o sexto mandato, apresentou-se como candidato único.

O quadro pouco difere do que se observa na Confederação Brasileira de Futebol. Em 2012, cercado de suspeitas e investigações, Ricardo Teixeira licenciou-se depois de 23 anos no comando da entidade.

Seu substituto, José Maria Marin, foi preso pela polícia federal americana sob acusação de corrupção. Marco Polo Del Nero, o atual presidente, não deixa o país por temer o mesmo destino.

Escândalos de corrupção, diga-se, são frequentes em entidades internacionais do gênero. Mas isso não exime os brasileiros, óbvio, de reformular o sistema aqui vigente.

Foi um passo importante nesse sentido a lei, sancionada em 2013 pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT), destinada, com restrições ao repasse de dinheiro público às entidades, a limitar a quatro anos o mandato de dirigentes, com direito a apenas uma reeleição. Há que prosseguir no aperfeiçoamento da governança esportiva.

Que o caso de Nuzman sirva de exemplo e favoreça pressões por mudanças, num momento em que a sociedade clama por transparência e padrões éticos mais elevados.

editoriais@grupofolha.com.br


Endereço da página:

Links no texto: