Folha de S. Paulo


KAMEL AREF SAAB

Maçonaria e o zelo pela democracia

Divulgação/Exército Brasileiro
Comandante Militar do Sul, General de Exército Antonio Hamilton Martins Mourao. Foto: Divulgacao/Exercito Brasileiro ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
O general Antonio Hamilton Martins Mourão, que sugeriu intervenção militar durante palestra a maçons

No último dia 17, esta Folha publicou trechos de uma palestra, promovida no auditório do Grande Oriente do Brasil, em Brasília, proferida por um Irmão Maçom que pertence ao quadro do Exército Brasileiro.

O discurso realizado pelo militar, que gerou debates ao longo de toda esta semana, falava em "intervenção militar" caso o Judiciário não resolva os problemas de corrupção causados pelos políticos.

Permitam-me reforçar três pontos importantes para ampliar este debate, uma vez que a Maçonaria foi citada, en passant, no texto: a Ordem Maçônica admite uma ampla gama de posições filosóficas e religiosas. Somos uma instituição que acolhe e respeita o pluralismo de ideias e debates desde que estejam conectadas com a Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

Para exemplificar nosso compromisso com estes valores, lembro, por exemplo, que à época do impeachment existiam maçons a favor e outros contrários. Todos puderam se manifestar de forma democrática. Outro: nas eleições de 2016, a Maçonaria avalizou candidatos à esquerda e à direita de nosso espectro político. Isso reforça nosso compromisso com a democracia e o amor lúcido e vivo pela Pátria.

O segundo ponto a ressaltar: o texto da Constituição do Grande Oriente do Brasil (GOB), Carta-guia para todos os maçons brasileiros, é bastante lúcido na defesa da Liberdade, Igualdade e Fraternidade quando diz, em seu Capítulo 1, que a Maçonaria "combate, terminantemente, o recurso à força e à violência para a consecução de quaisquer objetivos".

Um dos deveres do maçom, expressos em nossa Carta Magna Maçônica, é agir sempre com "probidade, praticando o bem, a tolerância e a solidariedade humana".

A livre manifestação de pensamento como direito inegociável é fundamental para o Brasil onde todos sejam livres e iguais em direitos e deveres e onde a tolerância constitua o princípio fundamental das relações humanas para que, assim, sejam respeitadas as convicções e a dignidade de cada um.

O último ponto para reforçar o compromisso maçônico com os ideais democráticos é a presença e atuação histórica da Maçonaria nas principais transformações sociais e políticas ocorridas no Brasil.

Da defesa por um Estado Laico à Proclamação da República, da Abolição da Escravatura à Independência do Brasil, da redemocratização do país à aprovação da Constituição de 1988, em todos estes momentos a Maçonaria Brasileira foi protagonista na construção e promoção de uma sociedade mais igual, fraterna e livre.

Somos uma instituição centenária de homens de boa vontade, movidos pelo ideal de servir e de construir uma sociedade mais saudável e um mundo melhor.

A história da Maçonaria no Brasil e, em especial, em terras paulistas, está ligada aos grandes avanços em direção ao desenvolvimento e à prosperidade do povo brasileiro.

Que a Maçonaria honre sempre seu passado de lutas e conquistas, mas que nele não estacione: que continue sendo uma instituição viva e atuante na sociedade civil, se preocupando em buscar soluções pacíficas para os problemas atuais do Brasil.

A Maçonaria precisa e deve atuar em meio ao cenário de crise política e econômica do nosso país, alinhada com outras organizações da sociedade civil, por uma renovação nacional pacífica que seja trabalhada com responsabilidade e, sempre, pelas vias democráticas.

Só assim conseguiremos construir um país melhor para todos nós e para as gerações futuras.

KAMEL AREF SAAB é Grão-Mestre Estadual do Grande Oriente de São Paulo (GOSP). É engenheiro e bacharel em Administração de Empresas

PARTICIPAÇÃO

Para colaborar, basta enviar e-mail para debates@grupofolha.com.br


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