Folha de S. Paulo


editorial

Xeque norte-coreano

Kyodo/Reuters
North Koreans watch a news report showing North Korea's Hwasong-12 intermediate-range ballistic missile launch on electronic screen at Pyongyang station in Pyongyang, North Korea, in this photo taken by Kyodo August 30, 2017. Mandatory credit Kyodo/via REUTERS ATTENTION EDITORS - THIS IMAGE HAS BEEN SUPPLIED BY A THIRD PARTY. MANDATORY CREDIT. JAPAN OUT. NO COMMERCIAL OR EDITORIAL SALES IN JAPAN. TPX IMAGES OF THE DAY
Em Pyongyang, norte-coreanos assistem a noticiário sobre lançamento de míssil

Kim Jong-un, o ditador da Coreia do Norte, continua movimentando-se no jogo nuclear com desenvoltura. Ao testar nesta semana mais um míssil de médio alcance, que sobrevoou o território do Japão antes de mergulhar no oceano Pacífico, colocou Washington numa posição desconfortável.

Afinal, não há resposta contundente que os Estados Unidos possam apresentar que não gere um perigoso aumento das tensões naquele pedaço do planeta.

Apesar de ambos os lados abusarem da retórica inflamada, o pressuposto básico ainda é o de que nenhum deles deseja um conflito militar, mesmo que limitado a armas convencionais.

Kim Jong-un sabe que nunca sairia vitorioso de tal embate; Donald Trump tampouco ignora que, se a crise evoluir para uma guerra, a Coreia do Norte tem capacidade para atacar de pronto a do Sul, o que poderia resultar em um número incalculável de baixas civis.

No teste desta semana, Kim não lançou o míssil em direção a Guam (território americano no Pacífico) como insinuara que faria. Tal manobra praticamente forçaria Trump a acirrar o discurso de confronto.

Ao visar o Japão, o ditador demonstra que tem condições de atingir áreas e tropas dos Estados Unidos, sem colocar-se em posição de sofrer um ataque inevitável.

Trump parece ter sentido o golpe —tanto que, pelo menos até aqui, evitou fazer comentários em redes sociais e preferiu reagir por meio de forte, mas sóbria, nota oficial.

A esta altura, a menos que os EUA estejam dispostos a encarar os riscos de uma ação militar maciça, parece não haver meios de evitar que a Coreia do Norte se consolide como país com poderio nuclear.

A chave óbvia para quaisquer ações diplomáticas é a China, única aliada e sustentáculo econômico do regime de Kim Jong-un.

Se Pequim não tem nenhum interesse em ver a dinastia Kim derrotada —e uma Coreia reunificada sob os auspícios do Ocidente fazendo-lhe fronteira—, tampouco desejará uma corrida armamentista na região. Um Japão nuclearizado é das hipóteses que mais assustam os chineses.

"Todas as opções estão sobre a mesa", conforme disse o comunicado de Trump. "Mas a diplomacia ainda está no topo delas", emendou, felizmente, o Pentágono.

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