Folha de S. Paulo


editorial

PMs em perigo

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Em grave crise financeiraede segurança, Rio já teve 97 policiais militares assassinados neste ano
Rio já teve 97 policiais militares assassinados neste ano

A crise econômica e administrativa que se abate sobre o Estado do Rio de Janeiro produz, como é sabido, vítimas em todas as áreas.

De estudantes da rede pública a usuários do sistema de saúde ou servidores com salários atrasados, não há setor da população que esteja imune às consequências da desastrosa conjunção de políticas irresponsáveis e práticas corruptas que marcou os últimos anos da vida fluminense.

O preço se cobra também nas vidas de policiais militares. Cresceu de modo assustador o número de PMs assassinados no Rio desde o início deste ano: contaram-se 97 até 14 de agosto, enquanto no Estado de São Paulo, que possui quase o dobro do contingente, o número se limitou a 22.

Na maioria dos casos, não se trata de mortes ocorridas durante o período em que o agente de segurança exerce seus serviços.

É na vida civil, ao sair de uma festa de aniversário ou ao aparecer no portão de casa —como ocorreu, respectivamente, com o cabo Silvio César da Silva e com o sargento Walter de Oliveira— que grande parte desses policiais perde a vida.

Por vezes, são reconhecidos como PMs durante um assalto; por hábito, é comum que desconsiderem a clássica recomendação que se faz a quem se vê em situações desse tipo —a de não reagir.

Outros casos se incluem, provavelmente, no capítulo das execuções por vingança ou rivalidade. Dada a frequência com que ações policiais resultam em assassinatos, justificados ou não, uma situação de "vendetta" se instaura.

Do ano recorde de 1994, quando 227 PMs (apenas 14 deles em serviço) foram assassinados no Rio, a curva dessas ocorrências vinha diminuindo, ainda que em ritmo irregular. Em 2011, baixara além da metade (108 mortos). Agora, o número se aproxima do registrado ao longo de todo aquele ano.

A trágica estatística se inscreve no processo geral de degradação da segurança no Estado, onde o número de homicídios, de 2.553 no primeiro semestre de 2015, saltou para 3.006 período correspondente de 2016 e 3.457 neste ano.

Ficam para trás as esperanças criadas com o sistema das Unidades de Polícia Pacificadora, que parecia, até o começo desta década, apontar para a redução significativa dos conflitos armados.

Em meio a um descalabro financeiro sem precedentes, retorna-se a um quadro, que se agrava, de barbárie sistemática e indiscriminada.

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