Folha de S. Paulo


editorial

Moro e os políticos

Eduardo Knapp/Folhapress
Curitiba, PR, BRASIL, 27-07-2017: ***Exclusivo FOLHA*** Em sua sala na Justica Federal do Parana, em Curitiba, Juiz Sergio Moro da entrevista via skype para jornalistas estrangeiros alem da FOLHA presencialmente. Jornalistas sao do grupo Colaborativo Investiga Lava Jato. A Folha eh o unico jornal brasileiro do grupo (Foto: Eduardo Knapp/Folhapress, PODER).
O juiz Sergio Moro, da Operação Lava Jato

Há um tanto de imprecisão —ou, talvez, de estratégia— nas críticas do juiz federal Sergio Moro às "autoridades políticas brasileiras", que a seu ver dedicam pouca ênfase ao combate à corrupção.

"Fica a impressão de que esta é uma tarefa única e exclusiva de policiais, procuradores e juízes", lamentou o magistrado de Curitiba, em entrevista a um consórcio internacional de jornalistas publicada pela Folha no domingo (30).

Como Moro decerto não ignora, acusações de desmandos, reais, presumidos ou infundados, e campanhas pela moralidade estão entre as armas mais antigas e eficazes da disputa política no país.

Um marco histórico, que data dos anos 1950, é a ofensiva da UDN sobre o derradeiro governo de Getúlio Vargas; nos anos 1980 e 1990, o PT apoderou-se da estratégia, a ponto de ser apelidado de "UDN de macacão" pelo ora aliado, ora adversário Leonel Brizola (PDT); com os petistas no poder, a oposição à direita retomou a bandeira.

Em tempos democráticos, tais pressões, mesmo quando meramente oportunistas e interesseiras, podem produzir resultados virtuosos —um presidente, Fernando Collor, foi deposto; comissões parlamentares de inquérito apuraram escândalos como os dos anões do Orçamento e do mensalão.

Para além dos feitos episódicos, o apelo da luta contra a corrupção proporcionou avanços institucionais dos mais relevantes.

Entre eles, um Ministério Público tido como exemplo mundial de independência e amplitude de atribuições; mais recentemente, a lei que multiplicou os acordos de delação premiada, uma das respostas políticas à onda de manifestações populares de 2013.

Sem ambos, dificilmente estaria em andamento a Operação Lava Jato que consagrou Sergio Moro.

Esta criou um cenário inédito em que governo e oposição são alvos simultâneos de inquéritos e denúncias —e que, agora sim, dá algum fundamento às preocupações externadas pelo juiz.

Parece exagerado, a esta altura, o temor quanto a um acordo legislativo que embarace investigações ou proporcione anistia às autoridades sob suspeita. Os condutores da Lava Jato, que souberam mobilizar a opinião pública contra retrocessos do gênero, deparam-se agora com desafios outros.

Decorridos mais de três anos desde o início da operação, os policiais, procuradores e juízes citados por Moro enfrentam nesta etapa a dificuldade prática de encontrar um desfecho à altura de toda a expectativa criada na sociedade.

Em meio ao oceano de delações, nas quais mais de uma centena de políticos são mencionados, constata-se que a tarefa de buscar provas suficientes para definir julgamentos é mais complexa.

Assim o demonstram as divergências internas em torno dos procedimentos de apuração, cada vez mais frequentes no noticiário.

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