Folha de S. Paulo


editorial

Uruguai na vanguarda

Nicolás Celaya/Xinhua
(170719) -- MONTEVIDEO, julio 19, 2017 (Xinhua) -- Una consumidora de marihuana muestra el envase de cannabis adquirido legalmente en una farmacia del barrio Pocitos, en Montevideo, capital de Uruguay, el 19 de julio de 2017. Dieciséis farmacias uruguayas comenzaron a vender a partir del miércoles marihuana para uso recreativo a los consumidores locales que se registraron previamente en el Instituto de Regulación y Control del Cannabis (Ircca), de los cuales el 70 por ciento son hombres y el 30 por ciento restante mujeres, y el costo será de 6,5 dólares estadounidenses (aproximadamente 187,04 pesos uruguayos) por cinco gramos, de acuerdo con información de la prensa local. (Xinhua/Nicolás Celaya) (nc) (jg) (ah)
Uruguaia mostra embalagem com maconha comprada legalmente em farmácia de Montevidéu

Começou na quarta-feira (19) a última fase da nova política do Uruguai para a maconha. Em 2013, lei aprovada pelo Congresso prescreveu a legalização gradual da droga. Primeiro, autorizou o plantio individual ou em clubes de cultivo (posse e consumo já eram liberados). Agora, a erva passa a ser vendida às claras em 16 farmácias do país.

A venda legal da maconha é restrita a cidadãos uruguaios ou residentes, que precisam se registrar para adquirir até 10 g por semana. De modo inédito, produção e distribuição ficam a cargo do Estado.

Outros países, como Portugal e Holanda, além de Estados dos EUA, descriminalizaram uso pessoal ou plantio caseiro. Só o Uruguai, porém, chegou à extravagância de estatizar todo o processo, levando mais longe a bandeira dos críticos do paradigma proibicionista.

Não há exagero em afirmar que o vizinho de 3,5 milhões de habitantes atrairá as atenções de boa parte do mundo. Aspectos positivos e negativos da experiência uruguaia, ainda que limitada à maconha, serão esgrimidos no que parecem contendas intermináveis entre quem apoia a guerra às drogas e quem advoga por sua legalização.

Se observado em perspectiva, contudo, esse debate está em movimento –e o segundo grupo tem conquistado terreno.

Nos anos 1980, quase não havia controvérsia; "proibir" era a palavra de ordem. O consenso começou a se desfazer na década seguinte, quando diversos países europeus passaram a preservar usuários, punindo apenas traficantes.

Consolidada a tendência, cresceu o grupo de personalidades insuspeitas dispostas a sustentar as vantagens da descriminalização (eliminar ou abrandar penas para o consumidor) e da legalização (autorizar produção e venda).

Os argumentos são sólidos. A guerra às drogas provou-se caríssima, ineficaz e proveitosa para os traficantes. Já a legalização pode gerar recursos para o Estado e garantir que os usuários com problemas sejam tratados em clínicas, e não em prisões, das quais não raro saem piores do que entram.

Adversários das medidas sempre disseram que a liberação das drogas implicaria aumento do número de consumidores e da criminalidade. A prática tem provado que esses temores são infundados.

No ano que vem, o Canadá seguirá o exemplo do Uruguai. Pode-se imaginar que, em breve, outros países farão o mesmo. De forma gradual, como deve ser, um paradigma insensato vai cedendo a um modelo muito mais racional.

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