Folha de S. Paulo


ALI KAYA SAVUT

Um ano da tentativa de golpe na Turquia

O mês de julho do ano passado foi um pesadelo para os turcos. Em 15 de julho de 2017, comemoramos o primeiro aniversário de uma tentativa de golpe frustrada. Os turcos ainda lutam para superar o trauma dessa ameaça a seu país.

Os perpetradores desse terrível golpe de Estado eram discípulos de Fetullah Gülen, um homem que se auto-intitula Imã do Universo.

Eles usaram equipamento militar letal contra civis inocentes que tomaram as ruas para defender suas instituições democráticas. Os golpistas usaram aviões de combate para bombardear o Parlamento, o Complexo Presidencial, a sede da Inteligência Nacional e a das Forças Especiais, além de tentarem assassinar o presidente e o primeiro-ministro. Naquela noite, eles tiraram a vida de 250 cidadãos turcos e feriram mais de 2.000 pessoas.

O povo da Turquia deu um exemplo histórico de solidariedade quando permaneceu diante dos tanques e reivindicou seus direitos democráticos. Todos os partidos políticos, tanto no governo quanto na oposição, e os elementos não infectados das Forças Armadas, da polícia e da mídia se opuseram aos golpistas.

Já naquela noite, era óbvio que Gülen e seus seguidores estavam por trás dessa tentativa sangrenta. Seu desejo era assumir o controle do Estado turco e reinstituir o regime de acordo com seu espírito religioso pervertido.

Existem 78 casos judiciais em curso em 23 províncias contra os perpetradores da tentativa de golpe, que trazem à superfície os compromissos mais escuros da organização. A Declaração do Estado de Emergência, prorrogada até meados de julho de 2017, era necessária para mover os órgãos do Estado de forma rápida e eficaz. Podem ter havido erros e aplicações excessivas ao longo do caminho, mas o governo turco está empenhado em corrigi-los. As medidas do Estado de Emergência estão sendo revisadas, levando em consideração as recomendações do Conselho da Europa.

Estamos diante de uma organização com aspirações globais de poder e dominância. A FETO (Organização Terrorista Fetullah Gülen) está presente em mais de 150 países ao redor do mundo, por meio de escolas, ONGs, lobistas, meios de comunicação e empresas, inclusive no Brasil. A estrutura da FETO no país também opera sob o disfarce de instituições legais. Devemos estar vigilantes às suas atividades e lembrar que sua retórica de defender os direitos humanos e as liberdades fundamentais é uma fachada para ocultar objetivos maldosos.

Na Turquia agora é dada extrema atenção à manutenção do equilíbrio entre as liberdades e a necessidade de segurança, observando suas obrigações internacionais. Como parte de seu compromisso, as organizações internacionais relevantes são oportunamente informadas sobre as medidas tomadas durante o Estado de Emergência. Os recursos administrativos e judiciais internos, incluindo a Comissão de Inquérito, existem para revisar as medidas para os que afirmam terem sido acusados injustamente.

Um Estado que sofreu imensamente com uma tentativa de golpe parece remediar a situação e tentar levar os responsáveis à Justiça, ao mesmo tempo que presta a máxima diligência à defesa dos princípios universais dos direitos humanos.

ALI KAYA SAVUT é embaixador da Turquia no Brasil.

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