Folha de S. Paulo


Phumzile Mlambo-Ngcuka

Mudanças no mundo do trabalho

No mundo inteiro, a maior parte das mulheres dedica um número excessivo de horas para as responsabilidades domésticas. Em geral, elas empregam nessas tarefas mais que o dobro de tempo gasto por homens.

Essa divisão desigual de trabalho tem origem no aprendizado das mulheres e em suas possibilidades de obter um trabalho remunerado, fazer esporte ou ocupar posições de liderança na sociedade. Isso determina os padrões de desvantagens e vantagens.

Queremos construir um mundo de trabalho distinto para as mulheres. À medida que crescem, as meninas devem ter a possibilidade de acessar ampla gama de carreiras e ser encorajadas a decidir para além das opções tradicionais nas áreas de serviço e atenção. Elas precisam de mais empregos na indústria, arte, função pública, agricultura moderna e ciência.

As mulheres devem estar preparadas para fazer parte da revolução digital. Atualmente, elas têm somente 18% dos títulos de graduação em ciências da computação. No mundo, é necessária uma mudança significativa na educação de meninas, tornando-as capazes de competir com êxito aos "novos empregos" bem remunerados. Hoje as mulheres representam apenas 25% da força de trabalho da indústria digital.

Segundo análise do grupo de alto nível da ONU sobre o empoderamento econômico feminino, alcançar a igualdade no ambiente de trabalho demandará uma ampliação considerável de oportunidades de emprego. Nesse sentido, os governos deverão promover a participação das mulheres na vida econômica.

Coletivos importantes, tais como os sindicatos, terão de prestar o seu apoio. E deverá ser dada a voz para as próprias mulheres gerarem as soluções que permitam superar as barreiras atuais.

Há muito em jogo: se a igualdade de gênero avançasse, poderia ser dado um impulso de US$ 12 bilhões no PIB mundial até 2025. É urgente atuar de maneira enérgica para eliminar a discriminação que vitima as mulheres em múltiplas frentes, o que converge para além do tema de gênero: orientação sexual, deficiência, idade avançada e raça.

Outro ponto fundamental é garantir as condições de trabalho adequadas naquelas áreas em que as mulheres já estão excessivamente representadas e com baixa remuneração, sem falar da escassa ou nula proteção social.

Trata-se, por exemplo, de buscar uma economia de cuidado sólida, que responda às necessidades das mulheres e promova a mudança de remuneração, que aplique condições igualitárias para o trabalho remunerado e não remunerado e abarque o acesso a financiamento e mercados.

As mulheres que trabalham no setor informal também necessitam de reconhecimento e proteção. Isso requer políticas macroeconômicas propícias ao crescimento inclusivo, possibilitando uma aceleração considerável para o progresso, em benefício das 770 milhões de pessoas que vivem em extrema pobreza.

É preciso que todas as partes façam ajustes em favor do trabalho decente e na direção de benefícios econômicos para todas as pessoas, como prevê a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável com a promessa de um mundo igualitário.

PHUMZILE MLAMBO-NGCUKA é subsecretária-geral das Nações Unidas e diretora executiva da ONU Mulheres. Foi vice-presidente da África do Sul de 2005 a 2008, na gestão de Thabo Mbeki

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