Folha de S. Paulo


PEDRO TRENGROUSE

Inovação no futebol

O futebol brasileiro precisa de uma inovação disruptiva. O atual modelo, fundamentalmente dependente das receitas de TV, já dá sinais de esgotamento e acentua essa globalização de mão única em que clubes estrangeiros têm mercado no Brasil, mas clubes brasileiros não têm no exterior.

Nos Estados Unidos, a ESPN perdeu quase 10 milhões de assinantes entre 2011 e 2016; a audiência da NBC com os últimos Jogos Olímpicos caiu 10%. O investimento em anúncios em 2017 deve chegar a US$ 73 bilhões na web e US$ 71 bilhões na TV. Na Inglaterra, a final da Liga dos Campeões foi transmitida ao vivo pelo Youtube, e a audiência da Premier League caiu 20%.

Para completar o quadro, um único atleta, Cristiano Ronaldo, que possui mais seguidores nas redes sociais que seu clube, gerou US$ 176 milhões para seus patrocinadores na internet. Só para a Nike, que paga a ele US$ 13 milhões por ano, foram US$ 36 milhões, com 59 publicações.

No Brasil, 80% das pessoas que veem futebol pela TV possuem uma segunda tela à mão. O Google, que concentra 30% da publicidade mundial na internet, já recebe o segundo maior investimento publicitário no país, ficando atrás apenas da TV Globo.

A Federação Paulista de Futebol teve mais de 1 milhão de visualizações em transmissões via web. Foram 30 em 2016 e serão 120 neste ano.

O Movimento por um Futebol Melhor, que acaba de criar premiação para boa gestão nos clubes brasileiros, desenvolveu, liderado pela Ambev, a maior plataforma de relacionamento com torcedores do mundo, integrando quase 80 times e mais de 1,2 milhões de sócios. Gerando cerca de R$ 500 milhões para os clubes.

Torcedores mais conectados nas redes sociais têm maior propensão a consumir produtos dos clubes e de seus patrocinadores. Mesmo assim, times brasileiros nem sequer conseguem converter fãs em sócios-torcedores.

O Corinthians conta com 11 milhões de seguidores no Facebook, mas apenas 1% disso no Fiel Torcedor. O Flamengo, 10,6 milhões e 0,5% no Cidadão Rubro-Negro. E mais -no Brasil, entre os 20 times com maior número de fãs no Facebook, 10 são europeus.

As receitas do Facebook crescem 60% ao ano, com mais de 1 bilhão de usuários diários, assistindo em média 8 vídeos por dia cada um. Por que os clubes brasileiros ainda não conseguem se aproveitar disso?

A geração do milênio, nascidos entre 1980 e 2000, e a geração Z, nascidos depois disso, já superam um terço da população mundial. São as primeiras a ter internet desde cedo. Querem experiências diferenciadas: assistir a um jogo interagindo com seus amigos; apostar em tempo real nos lances da partida; ter acesso permanente a informações relevantes. E estão dispostos a pagar por isso.

Aos clubes, não basta apenas melhorar a gestão e continuar oferecendo mais do mesmo. A fragmentação do consumo de entretenimento e informação através dos mais variados canais é oportunidade para cultivar relacionamentos mais sólidos com torcedores e patrocinadores.

Engajamento é a chave. Os clubes precisam de um verdadeiro choque de transparência e participação. Se torcida derruba técnico, chegou a hora de escolher também.

PEDRO TRENGROUSE é coordenador acadêmico do curso da Fundação Getulio Vargas em gestão, marketing e direito no esporte. Foi vice-presidente jurídico da Federação de Futebol do Estado do Rio

PARTICIPAÇÃO

Para colaborar, basta enviar e-mail para debates@grupofolha.com.br


Endereço da página:

Links no texto: