Folha de S. Paulo


ROBERTO JUSTUS

Ser ou não ser

Comandar uma nação é permitir que as pessoas possam viver com dignidade, recebendo um serviço público de qualidade, incentivar o progresso com a visão e a capacidade de realização que coloquem o país em patamares exemplares em todos os setores. Líderes devem ser aqueles que, por meio de ações e exemplos, levem a população a uma vida digna e cheia de oportunidades.

O brasileiro é um povo extraordinário, corajoso, trabalhador e empreendedor. É otimista e tem neste momento, acima de tudo, uma enorme sede de honestidade e justiça.

Seria uma honra imensa poder liderar esse país. Mas esse sonho se dissolve diante de uma realidade que não se pode ignorar: a dinâmica da política atual é complexa e exige pessoas com um tipo de temperamento muito diferente do meu.

Sou transparente e espontâneo até demais. Falo o que penso. Não tenho apetite por engolir sapos ou disposição para abrir mão do que acho certo. Não gosto de "jeitinho" e conchavos.

O fato é que o cenário político que temos hoje não favorece os idealistas e os empreendedores. Hoje, só os pragmáticos conseguem resultados porque aceitam fazer concessões e negociam apoio para seus projetos por meio de alianças.

É trágico que o ambiente político esteja tão degradado porque a política e as instituições democráticas ainda são a melhor maneira de colocar as pessoas no centro de tudo.

A renovação do cenário político fará com que as instituições sejam um melhor reflexo das necessidades do povo. Mas isso é um processo e ainda vai levar um bom tempo.

Hoje, para que um candidato fora do mundo político possa se eleger, ainda precisa se associar a partidos com grande estrutura que, muitas vezes, têm interesses diferentes dos que considero corretos ou prioritários. Além disso, precisa abrir mão de muitas convicções para aceitar as regras do jogo.

Sou um empreendedor, passei a minha vida realizando projetos, motivando pessoas, alcançando objetivos, fazendo acontecer.

Por isso, posso dizer com tranquilidade que penso em não concorrer, não por medo de enfrentar uma campanha, mas pela grande possibilidade de, mesmo eleito, acabar não conseguindo espaço para governar de acordo com minha visão.

E me angustia a possibilidade de me ver impedido de realizar um bom governo por causa da dependência de um Legislativo que demonstrou, em muitos casos, desacerto com os interesses da sociedade.

Felizmente as coisas estão mudando. Basta ver o recado das urnas em São Paulo: as pessoas querem gestores, gente sem passado político e com projetos capazes de trazer mais oportunidades.

Provavelmente a vitória de candidatos com perfil de gestor aqui e nos EUA foi o que fez com que as pessoas vissem em mim possível pré-candidato à Presidência. Tudo isso me deixou muito orgulhoso e, confesso, perdi muitas horas de sono pensando se deveria ou não me candidatar. O resultado dessa reflexão, pelos motivos expostos acima, é que não sou candidato à Presidência.

Todo esse processo me fez querer me aprofundar ainda mais nos assuntos nacionais, buscando formas de contribuir. Por isso, aceitei participar do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.

Amo o meu país e sou um eterno otimista que acredita que estamos vivendo um momento histórico de mudanças profundas que com certeza construirão um futuro muito melhor para as próximas gerações.

ROBERTO JUSTUS, publicitário, comanda o Grupo Newcomm. Apresentador de TV, esteve à frente do reality show "O Aprendiz" (Record)

PARTICIPAÇÃO

Para colaborar, basta enviar e-mail para debates@grupofolha.com.br


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