Folha de S. Paulo


editorial

Febre de vacinas

O surto de febre amarela silvestre iniciado em Minas Gerais continua a preocupar autoridades de saúde e a inquietar a população.

Até a manhã desta quinta-feira (26), o governo federal computava 72 casos confirmados, entre 550 notificados. Houve 40 mortes (outras 65 seguem sob investigação).

É a quarta ameaça em sequência a ser enfrentada no país tendo flavivírus por agentes. Essa família de patógenos tem em comum a transmissão por mosquitos Aedes aegypti, vetor das epidemias de dengue, zika e chikungunya.

Não se pode falar de epidemia no caso da febre amarela, uma doença preocupante por sua alta letalidade. O surto atual se caracteriza pela modalidade silvestre: pessoas que contraem a doença em áreas de mata habitadas por macacos, e não por transmissão entre pessoas no meio urbano.

Os mosquitos envolvidos também diferem. Os símios doentes são picados por insetos dos gêneros Haemagogus e Sabethes, que podem depois infectar com o vírus da febre amarela seres humanos presentes em lugares florestados.

Nas cidades é o Aedes que transmite esse flavivírus. Não há hoje perspectiva de erradicar esse mosquito, como fez Osvaldo Cruz no Rio de Janeiro da primeira década do século 20, mas é fato que os últimos casos documentados de febre amarela urbana, transmitida de pessoa a pessoa, se deram há 74 anos, em 1942.

O controle da moléstia se faz apenas com recurso à vacinação, recomendada de maneira oficial no DF e em 17 Estados —inclusive em todo o oeste de São Paulo. Estima-se que seja possível bloquear a transmissão entre humanos com 80% da população imunizada.

Em Minas Gerais, onde ocorreram 37 dos 40 óbitos por febre amarela atestados pelo Ministério da Saúde, apenas 49,7% da população estadual foi vacinada nos últimos dez anos. O surto progride porque há muitos indivíduos suscetíveis.

Com a divulgação do número alto de mortes até aqui, contra cinco no ano inteiro de 2016, cidadãos estão correndo aos postos de saúde em busca de imunização mesmo em cidades –como a capital paulista– em que ela só é recomendável a quem vai viajar para áreas de risco. A vacina pode ter efeitos colaterais graves e não deve ser aplicada em qualquer pessoa.

Compete ao poder público distribuir doses de maneira eficiente aos locais que de fato necessitam delas. Precisa ainda esmerar-se mais na comunicação sobre quem deve vacinar-se e onde, para prevenir uma epidemia de pânico e a desorganização geral do sistema.

editoriais@grupofolha.com.br


Endereço da página:

Links no texto: