Folha de S. Paulo


ROBERTO OLMEDO CONSUL E NELSON HIRANO

Mudança da Ceagesp para a zona norte seria benéfica para São Paulo? NÃO

FALTA DE INFORMAÇÃO NUTRE FALSA IDEIA

Alguns mitos e falta de informação e de visão global da cadeia produtiva de alimentos nutrem a ideia de que a mudança do local do Ceasa (Centro Estadual de Abastecimento) de São Paulo será benéfica para a cidade.

O argumento de que as marginais são impactadas pelo fluxo de caminhões de abastecimento, por exemplo, não se sustenta. Dados oficiais apontam diariamente nas marginais Tietê e Pinheiros cerca de 300 mil e 400 mil veículos, respectivamente.

O entreposto recebe 14 mil veículos por dia; 20% são caminhões de grande porte e 90% do movimento ocorre entre 22h e 4h. É irreal responsabilizar o Ceasa por congestionamentos na capital paulista.

Os que enxergam a mudança como obrigatória ignoram a realidade da logística do abastecimento de alimentos frescos. O Ceasa serve hoje principalmente aos pequenos comerciantes, pois as grandes redes têm seus próprios centros de distribuição. Distanciar o entreposto da imensa e pulverizada cadeia comercial terá como resultado o aumento do preço final dos produtos.

Situado a cerca de 30 minutos, de carro, do centro da cidade, o Ceasa oferece facilidade de acesso a cinco grandes rodovias, em um raio de três quilômetros: Castelo Branco, Anhanguera, Bandeirantes, Regis Bittencourt e Raposo Tavares.

O entorno apresenta uma extensa malha de transporte coletivo. A estação da CPTM, no portão 14, e a Vila Leopoldina, bem próxima, dão acesso aos trabalhadores e consumidores de bairros mais afastados e de cidades do interior. Com bilhete único, é possível a integração com o metrô na estação Pinheiros e a ligação do usuário do Ceasa com a rede do metroviário paulistano.

São 50 anos de construção da infraestrutura para movimentar mais de um terço dos alimentos frescos do país, fora pescados e flores, e abastecer a maior cidade brasileira.

Todo o entorno do Ceasa organizou-se para atender, com produtos e serviços, cerca de 50 mil usuários diários, sendo 25 mil trabalhadores, entre comerciantes e empregados, com 20 mil carteiras assinadas.

Além do atacado, temos duas feiras para o consumidor final, consideradas as maiores do país, que recebem 30 mil pessoas a cada fim de semana. Restaurantes, manutenção de veículos, residências -construiu-se uma cidade dentro da cidade para garantir o vigor do atual Ceasa.

Só para referência, cabe citar a experiência de Buenos Aires. A criação do Eseiza, entreposto construído fora do centro, resultou em subutilização e relativo desperdício do investimento, pois os consumidores não migraram.

No Ceasa, não falta espaço e a infraestrutura urbana está completa. Tem tudo para se tornar referência mundial em abastecimento e segurança alimentar, e mesmo um centro de difusão de conhecimento no âmbito agrícola, gastronômico, turístico etc.

Isso parece possível se o governo nos conceder a oportunidade de fazer a gestão dos nossos próprios recursos. Poderíamos nesse momento discutir a modernização do entreposto, convênios com universidades, organização de grandes oficinas de compostagem para produção de adubos orgânicos, aproveitar melhor sua posição estratégica, principalmente pela localização, como agente de desenvolvimento econômico e social.

Mas perdemos tempo repetindo evidências e cobrando do governo federal uma decisão sobre a reclamada autogestão. Nós, permissionários, temos condições de garantir à sociedade que o Ceasa, onde está, assuma seu papel como um importante entreposto alimentar e volte a ser um dos grandes orgulhos da cidade de São Paulo.

ROBERTO OLMEDO CONSUL, 48, advogado, comerciante e agricultor, é permissionário do Ceasa SP

NELSON HIRANO, 59, engenheiro, comerciante e agricultor, é permissionário do Ceasa SP

PARTICIPAÇÃO

Para colaborar, basta enviar e-mail para debates@grupofolha.com.br.


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