Folha de S. Paulo


CARLOS LEITE

Mudança da Ceagesp para a zona norte seria benéfica para São Paulo? SIM

OPORTUNIDADE DE DESENVOLVIMENTO URBANO

O metabolismo urbano da cidade de São Paulo opera de forma disfuncional na maior parte de seu território, com um modelo do século 20 e uma dinâmica do século 21.

A rede logística e a cadeia de abastecimento alimentício são típicas desse grave descompasso, sintomatizado em uma enorme quantidade de caminhões que circulam pelo tecido urbano, aumentando os congestionamentos e poluindo bairros residenciais.

Essa situação acarreta hoje prejuízos à própria logística de abastecimento e distribuição, gerando ineficiência e desperdício.

A chegada do Nesp (Novo Entreposto de São Paulo) à região de Perus (zona norte) é peça fundamental na engrenagem que constrói uma rara oportunidade estratégica de desenvolvimento urbano.

Perus possui a vocação ideal para se constituir no grande polo logístico da cidade e da região metropolitana, por estar localizado nas bordas da cidade e junto à melhor rede de distribuição logística e de transporte de cargas do país: rodovias Bandeirantes e Anhanguera, Rodoanel, ferrovia, o futuro ferroanel e ainda o potencial futuro aeroporto de Caieiras.

Esse polo, parte do planejamento estratégico da macrometrópole e da região metropolitana, foi sinalizado no novo Plano Diretor Estratégico da cidade (PDE). Ou seja, a implementação do Nesp em Perus é uma ação bem-vinda e consonante com os planos vigentes.

O Nesp, empreendimento totalmente privado e constituído por permissionários que operam no setor do abastecimento há décadas, propõe-se a ser o mais moderno e eficiente entreposto do país, com uma implantação gradativa e planejada.

Irá crescer à medida que a infraestrutura de suporte também se expandir, tornando-se nas próximas décadas um condomínio logístico de quatro milhões de metros quadrados.

Com sua implementação, na região de Perus serão criadas cerca de 30 mil vagas de emprego, o que atenderá a meta do PDE de levar oportunidades de trabalho às regiões periféricas predominantemente residenciais.

Perus beneficia-se, também, com a doação de grandes áreas verdes e institucionais por parte do grupo empreendedor, que somam mais de 700 mil metros quadrados, com claros benefícios socioambientais à população local. Haverá ainda construção de parques e área de lazer para receber equipamentos públicos destinados à saúde e à educação, demandas da região.

São Paulo tem uma rara oportunidade de requalificar uma região carente, Perus, e reestruturar outra, a Vila Leopoldina (zona oeste), que poderá receber o primeiro bairro planejado do século 21, com a desativação gradativa da Ceagesp, empresa gerida pelo governo federal que administra o Ceasa de São Paulo.

Ali, a área da Ceagesp, somada às áreas vizinhas em transformação, pode se transformar num bairro pleno, com diversidades de usos e classes, áreas verdes, habitação, núcleos de inovação tecnológica e economia criativa, serviços e comércio, junto à orla fluvial requalificada na esquina dos rios Pinheiros e Tietê.

A cidade pode ser reinventada por meio de ações sistêmicas, táticas e estratégicas. O Nesp vai ao encontro de demandas urgentes e integra-se a um conjunto de sinergias de caráter estrutural. Temos aqui um desejável projeto ganha-ganha.

CARLOS LEITE, é urbanista, professor na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie e coordenador dos estudos do projeto de intervenção urbana do Novo Entreposto de São Paulo

PARTICIPAÇÃO

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