Folha de S. Paulo


União pelo clima

Em dezembro do ano passado, 195 países e a União Europeia negociaram, em Paris, o novo acordo climático global. Foi um momento raro nos tempos que correm, um assomo de responsabilidade por parte da comunidade internacional sobre um dos temas mais significativos para o nosso presente e futuro.

O acordo é universal e juridicamente vinculativo. Define um plano de ação para o mundo evitar mudanças climáticas perigosas, limitando o aquecimento global a menos de 2º C, com os esforços para chegar a 1,5º C. Agora, só falta transformá-lo em realidade.

O Brasil está entre os líderes do processo. A recente promulgação, pelo presidente Michel Temer, permite apresentar às Nações Unidas, na quarta-feira (21), o instrumento de ratificação do Acordo de Paris pelo Brasil.

Mas validar o acordo, por si só, não vai concretizar as ações de mitigação, adaptação e financiamento. Todos os países devem agora implementar políticas para desenvolver planos climáticos nacionais robustos e abordagens internacionais. Sabemos que o Brasil tem expressivas ambições, como reduzir as emissões de gases do efeito estufa em 37% até 2025, tendo como base os níveis de 2005.

A União Europeia continua a avançar com políticas climáticas arrojadas, tendo por objetivo reduzir as emissões em pelo menos 40% até 2030. Há temores de que medidas contra as mudanças climáticas possam afetar o crescimento econômico. A experiência, contudo, mostra que o oposto é verdadeiro: nossas emissões diminuíram 23% desde 1990, enquanto o PIB cresceu 46%.

A União Europeia está pronta a compartilhar sua experiência e lições aprendidas para o benefício de todos; temos ampla cooperação com muitos parceiros. As principais economias do mundo têm a responsabilidade de assumir a liderança, tanto por meio de suas ações no plano nacional quanto pelo apoio aos países mais vulneráveis.

Como assegurar um aumento contínuo de nossa ambição nos anos vindouros? Como construir o quadro de transparência que acordamos em Paris? Não só os governos possuem responsabilidade -também os agentes econômicos, as cidades e a sociedade civil desempenham um papel crucial para a eficácia do plano.

A cooperação entre a União Europeia, os seus Estados-membros e o Brasil é intensa e robusta. Nossa parceria fez a diferença na conferência histórica em Paris.

No ano passado realizamos um grande evento, denominado "Mudanças Climáticas, Somos Todos Responsáveis", durante oito dias no Rio de Janeiro, com mais de 6.000 pessoas, entre autoridades públicas, empresas, sociedade civil organizada e público em geral. Debatemos uma sociedade e economia de baixo carbono, mais resiliente às mudanças climáticas.

Neste ano, com o lema "Baixo Carbono Brasil", apoiaremos a transferência de tecnologias e parcerias entre as pequenas e médias empresas europeias e brasileiras em temáticas como eficiência energética, resíduos sólidos, biogás, biometano e energias renováveis.

Devemos manter o impulso de Paris, pois o prêmio vale a pena: preservar o planeta para as gerações futuras, apostando em menos emissões, maior segurança e eficiência energética e um crescimento orientado para a inovação.

Há muito trabalho a fazer, e cá estamos prontos para dar continuidade à parceria com o Brasil.

JOÃO GOMES CRAVINHO, 52, português, doutor em economia pela Universidade de Oxford, é embaixador da União Europeia no Brasil

Também subscrevem este artigo os embaixadores dos Estados-membros da União Europeia no Brasil,

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