Folha de S. Paulo


Editorial

O Brasil no Antropoceno

Se não ocorrer nova alteração no programa do presidente Michel Temer (PMDB), esta segunda-feira (12) deverá presenciar a ratificação do Acordo de Paris pelo Brasil.

O ato formal que incorpora o tratado sobre mudança do clima na legislação nacional deveria ter acontecido antes da viagem à China para a cúpula dos 20 países mais ricos. Em meio às peripécias do impeachment, terminou adiado.

Perdeu-se boa oportunidade de projetar o país sob luz mais favorável. Dos membros do G20, o Brasil detém, com folga, os mais vistosos distintivos ambientais: milhões de quilômetros quadrados de floresta tropical, uma das matrizes energéticas mais limpas e um robusto setor de biocombustíveis, para citar apenas alguns deles.

Esse trio de credenciais verdes permite ao país economizar boa dose de poluição climática, dado que a maior parte das emissões mundiais de gases do efeito estufa ocorre no setor de energia e por desmatamento.

O governo brasileiro poderia ter tentado capturar algo da atenção despertada pelo anúncio conjunto de ratificação feito por China e EUA em Hangzhou, resultado mais vistoso na cúpula.

De todo modo, ao adotar plenamente o Acordo de Paris, o Brasil entra com o pé direito no Antropoceno, nova divisão do tempo geológico proposta na semana passada, durante o 35º Congresso Geológico Internacional, na Cidade do Cabo (África do Sul).

A chamada Era do Homem se caracteriza justamente pela influência mensurável da atividade humana nos ritmos biofísicos do planeta, a começar pelo impacto no clima.

Com a adesão de governos tão pragmáticos e díspares como o americano e o chinês, o roteiro de Paris —manter o aquecimento da atmosfera abaixo de 2°C na média global— ganha força como um imperativo econômico, mais que tudo. O país que não se adaptar terá problemas mais à frente.

Além disso, combater a mudança do clima com a limpeza da matriz energética trará benefícios também de saúde pública: segundo o relatório "O Custo da Poluição do Ar", lançado na quinta-feira (8) pelo Banco Mundial, a economia global perdeu US$ 225 bilhões em 2013 com mortes precoces causadas por substâncias tóxicas, sobretudo crianças e idosos.


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