Folha de S. Paulo


CARLOS MARUN

Das coisas que sei e não sei

Cheguei ao Congresso Nacional no começo do ano passado, quando me deparei com um processo eleitoral em que um deputado se propunha a enfrentar a oposição e o governo para se tornar presidente da Câmara.

Pregando a independência do Congresso e a necessidade de colocar em votação temas polêmicos, que há anos dormiam nas mais diversas gavetas, Eduardo Cunha (PMDB/RJ) derrotou no primeiro turno Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Júlio Delgado (PSB/ MG).

O resultado foi uma revolução. Nunca se votou tanto. O governo não mandava mais na Câmara. CPIs foram instaladas. Temas polêmicos, como a redução da maioridade penal, a terceirização e o aumento da remuneração do FGTS, foram aprovados e hoje estão adormecidos nos corredores do Senado.

Tudo isso provocou grande desagrado. Um presidente da Câmara independente ou até oposicionista? "Não pode", gritou o governo. Um presidente da Câmara que valoriza a família tradicional? É homofobia, gritaram muitos.

Um presidente da Câmara que defende o direito de o cidadão possuir uma arma em sua residência ou propriedade rural? É "genocídio", bradaram os defensores dos direitos humanos". E por aí vai.

Assim se chegou a um acordão. Eduardo Cunha seria transformado, perante a opinião pública, no chefe do petrolão, o "boi de piranha" que deveria ser lançado ao rio para que o restante da boiada seguisse o seu caminho rumo à riqueza, ao poder, à paz e à tranquilidade.

Não sei se Eduardo Cunha é culpado ou inocente. Não o conheço a tempo suficiente para botar a mão no fogo por ele, e por isso não a ponho. Todavia, muitas outras coisas eu sei.

Eu sei que Cunha jamais deveria ser o primeiro político a ser julgado no petrolão, pois isso seria uma evidente inversão de pauta que serviria aos interesses do governo deposto.

Eu sei que um parlamentar jamais poderia ser cassado com base em denúncia do Ministério Público ainda não julgada e com base na existência de uma conta cujo número nem sequer consta na representação contra ele.

Eu sei que a liderança de Cunha foi imprescindível para que o desgoverno de Dilma Rousseff fosse deposto e o Brasil pudesse vislumbrar hoje uma janela de esperança.

Eu sei que o último presidente da Câmara que realmente se opôs ao governo federal foi Ibsen Pinheiro (1991-1993). Acabou por ser vítima de uma das maiores injustiças já sofridas por um homem público -teve seu mandato de deputado federal cassado em 1994.

Eu sei que não há no processo em tramitação na Câmara elementos suficientes para alicerçar a cassação de Cunha. Trust não é conta. Nem mesmo o acusador relator ousa fazer tal afirmação. Não houve mentira no depoimento de Cunha à CPI da Petrobras. O que aconteceu foi uma omissão.

Ao contrário do que muitos afirmam, ninguém defende uma anistia ao deputado Eduardo Cunha. Estamos propondo a grave pena de suspensão de seu mandato, para que ele continue sendo julgado pelo STF (Supremo Tribunal Federal), onde, ao final, poderá ser cassado ou até privado de sua liberdade.

Cunha fez muito pelo país ao nos livrar do governo corrupto e incompetente que nos escravizava. Merece um julgamento justo, livre dos anseios de vingança que movem muitos dos que querem cassá-lo. Tal julgamento só pode acontecer no STF.

CARLOS MARUN, é deputado federal (PMDB/MS). Foi vereador de Campo Grande (MS) e deputado estadual pelo Mato Grosso do Sul

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