Folha de S. Paulo


editorial

O social e o econômico

O Brasil se sai aparentemente bem na edição deste ano do Índice de Progresso Social (IPS), uma tentativa de mensurar o grau de desenvolvimento do país sem adotar a métrica da riqueza econômica.

Seu resultado é o 46º melhor numa relação de 133 nações, avaliadas a partir de 53 parâmetros tão diversos quanto escolaridade, expectativa de vida, saneamento básico, taxa de suicídios, tolerância a homossexuais, liberdade de imprensa e corrupção.

O relatório divulgado pela ONG internacional que promove o índice considera esse desempenho positivo, dado que o PIB brasileiro por habitante é apenas o 56º maior do grupo. Ou seja, nossos indicadores de bem-estar superam a média das nações de renda semelhante.

Decerto haverá muito a questionar num ranking formado a partir de dados e valores tão díspares —nem todos concordariam, por exemplo, em dar igual peso a saúde e acesso a informação, a educação e qualidade ambiental.

Ainda assim, o detalhamento do IPS e a comparação internacional permitem identificar erros e acertos, trunfos e fraquezas das diversas regiões e sociedades.

Discrepâncias evidentes entre riqueza e avanço social se veem nos grandes produtores de petróleo do Oriente Médio. Donos dos maiores PIBs per capita da listagem, Kuait e Emirados Árabes Unidos não proporcionam padrões de vida condizentes a seus habitantes.

No caso brasileiro, a consolidação das instituições da democracia constitui clara vantagem comparativa. Ocupamos a 38ª colocação no grupo de indicadores relacionados a direitos, liberdades individuais e tolerância –muito à frente de emergentes relevantes como China, Rússia, Índia e Turquia.

Vamos muito mal, entretanto, quando se mede o atendimento de necessidades básicas da população. Nessa categoria, o país aparece em um vexatório 75º lugar, atrás de vizinhos mais pobres como Peru, Paraguai e Equador. O deficit habitacional e, principalmente, as taxas de violência derrubam os resultados nacionais.

Ao final, o índice que pretende ir além do PIB acaba por reafirmar o papel crucial do crescimento econômico. Exceções e desvios à parte, prosperidade material e desenvolvimento humano estão fortemente associados em todo o mundo.

O Brasil, como observa o relatório, caminha a passos lentos na expansão de seu nível de renda. Apesar dos avanços nas duas últimas décadas, ainda despontamos como um caso de carências básicas gritantes para um país democrático e plural.

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