Folha de S. Paulo


editorial

Parques de inversões

Mesmo diante dos números anêmicos de procura por parques naturais do Brasil, são deprimentes as cifras de frequência a essas reservas de tranquilidade em São Paulo.

A área no Pico do Jaraguá, uma das mais populares do Estado por causa de sua proximidade com a capital, recebe meros 600 mil visitantes por ano. À Caverna do Diabo, na região de Registro, afluem pouco mais de 30 mil turistas.

O Parque Nacional da Tijuca, na área urbana do Rio de Janeiro, recebe 3 milhões de pessoas. O de Iguaçu (PR), 1,5 milhão. Em contraste, o mais visitado dos EUA, Great Smoky Mountains (Tennessee e Carolina do Norte), é frequentado por mais de 10 milhões de pessoas.

A administração pública brasileira, que já vai de mal a pior no provimento de serviços sociais básicos como saúde e educação, descuida de itens decisivos para atrair turistas aos parques, como banheiros, restaurantes e vigilância.

Sob a penúria orçamentária resultante da crise econômica, a única saída é buscar investimentos privados para melhorar os serviços desses espaços. Como, aliás, se faz em várias partes do mundo.

Espera-se que seja por esse motivo que o governador Geraldo Alckmin (PSDB) planeja conceder à iniciativa privada a exploração comercial de até 25 deles.

Não se trata de privatizá-los, pois os parques permanecerão como patrimônio estadual. Ao contrário, a concessão criaria condições para torná-los públicos de fato —isto é, para que sejam mais frequentados.
São Paulo conta com as maiores manchas contínuas de mata atlântica no país. Seus parques sem dúvida merecem mais atenção.

Ainda assim, exceção a algum preconceito antiempresarial que aqui e ali aflora no ecossistema ambientalista, cabe examinar certos reparos ao projeto de Alckmin aprovado na Assembleia Legislativa.

Faz sentido, por exemplo, rediscutir a concessão por 30 anos. O período poderia ser reduzido para 10 ou 15 anos, com possibilidade de renovação, o que daria ao Estado mais força para avaliar a qualidade do serviço contratado.

A natureza preservada é um bem de todos e por todos deve poder ser desfrutada. Se o Estado não consegue cumprir essa obrigação, precisa buscar recursos onde eles estiverem —mas sem permitir que a gestão privada encareça a entrada a ponto de afastar justamente a maioria que se pretende atrair.

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