Folha de S. Paulo


editorial

Metas para inglês ver

Quando Dilma Rousseff (PT), ainda como presidente, divulgou as metas da contribuição brasileira para combater a mudança do clima, em setembro de 2015, os compromissos foram tidos como avançados. Houve reparos apenas quanto à falta de detalhes sobre o que precisaria ser feito para cumpri-los.

Pouca coisa progrediu desde então. A gestão petista, que nunca primou pela capacidade de planejamento, naufragou no impeachment e afundou de vez na paralisia.
O setor privado ainda se pergunta como o país vai financiar o desafio de restaurar 12 milhões de hectares (120 mil km2) de florestas. Ou recuperar 150 mil km2 de pastos degradados, aos quais se somam outros 150 mil km2 do Plano ABC (agricultura de baixo carbono).

Ou, ainda, implantar 90 mil km2 de pastagens que também produzem madeira, no sistema batizado de integração pecuária-floresta.

Um conjunto de intervenções em mais de 500 mil km2 (área equivalente ao dobro do Estado de São Paulo), cuja dinâmica não será modificada sem investimento pesado.

Essas três iniciativa têm por objetivo mitigar as emissões de gases do efeito estufa geradas pela agropecuária, que responde por 27% da poluição climática no Brasil. Sem elas, o país não conseguirá cortar em 43%, até 2030, o carbono que lança na atmosfera, como prometeu Dilma -além de zerar o desmatamento ilegal na Amazônia.

Só para recuperar florestas seriam necessários de R$ 31 bilhões a R$ 52 bilhões em 25 anos, calculou estudo do Instituto Escolhas a pedido da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura -uma rede com mais de 120 empresas, centros de pesquisa e organizações civis.

A coalizão patrocinou mais dois diagnósticos, estes realizados pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV-SP. Um aborda a viabilidade econômica da recuperação de pastagens e da integração pecuária-floresta; o outro, a decuplicação de concessões para empresas privadas explorarem madeira em florestas públicas.

Nos dois casos, a conclusão genérica aponta bom potencial para mitigar emissões e gerar empregos, mas com baixo rendimento ou prejuízo para os investidores.

Fixar metas ambiciosas é fácil; difícil é definir o caminho para chegar a elas e não fazer papelão perante a comunidade internacional.

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