Folha de S. Paulo


editorial

Agora a febre amarela

Após ter superado o mais grave surto de ebola da história, a África enfrenta agora outra grande ameaça viral: a febre amarela. Trata-se da pior epidemia da doença no continente em 30 anos. O epicentro está em Angola, onde, desde dezembro, cerca de 2.500 pessoas foram infectadas e 300 morreram.

Na forma silvestre, a doença é endêmica em quase toda a África, na América do Sul e Central. Causa cerca de 30 mil mortes por ano no mundo inteiro.

A mortandade torna-se ainda maior quando o vírus circula em zonas urbanas, como agora. A grande concentração de pessoas possibilita surtos assustadores. No último, em 1986, 24 mil pessoas morreram em poucos países africanos.

Provocando febre alta, dor de cabeça, dor muscular aguda, cansaço, calafrios, vômito e diarreia, a febre amarela tem sintomas semelhantes aos da dengue, mas é muito mais letal. Cerca de 1 em cada 7 infectados desenvolve sua versão hemorrágica, que leva à morte em metade das ocorrências.

O vírus já chegou a cidades da República Democrática do Congo e do Quênia. Mais consternador, confirmaram-se 11 casos na China —em trabalhadores que voltaram de Angola. Como nunca houve disseminação da enfermidade na Ásia, a esmagadora maioria da população não está imunizada.

Escaldada pelas críticas devido à demora em reconhecer a epidemia de ebola, a OMS reagiu logo desta vez. Na última semana, o órgão classificou o surto como sério e afirmou que suscita especial preocupação, mas evitou por ora declarar emergência mundial.

Causada por um arbovírus da mesma família da dengue e da zika, a febre amarela é transmitida nas cidades por um conhecido dos brasileiros, o mosquito Aedes aegypti.

O vetor encontra terreno fértil nas áreas urbanas da África, onde a estrutura sanitária não raro é precária. A isso se somam inadequados sistemas de vigilância e notificação, bem como porosas fronteiras nacionais, que elevam as chances de disseminação da doença.

Embora não haja tratamento para a febre amarela, existe vacina. A OMS considera que os estoques são suficientes para dar conta da epidemia em seu abrangência atual. Esse quadro, todavia, pode mudar rapidamente se o surto atingir outros grandes centros.

A OMS conclamou os países a aumentar a vigilância sobre viajantes e trabalhadores que retornem de Angola —onde existe uma grande comunidade internacional. Isso vale sobretudo para o Brasil, que mantém laços econômicos com o país em diversas áreas.

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