Folha de S. Paulo


editorial

Preconceito transgênico

Embora os organismos geneticamente modificados (OGMs) existam desde a década de 1970, a discussão sobre seus riscos e benefícios se baseia, ainda hoje, mais em preconceitos do que em fatos.

Um extensa pesquisa publicada na semana passada pela Academia Nacional de Ciências, Engenharia e Medicina dos EUA deve carrear mais racionalidade ao debate.

Após examinar mais de mil estudos sobre o tema, a entidade concluiu que os OGMs estão longe de ser a aberração perigosa denunciada por detratores. Não só não trazem riscos à saúde como, se usados corretamente, propiciam benefícios para agricultores e ambiente.

Os dados compilados se referem a milho e algodão dotados de genes que os tornam resistentes a certos insetos, e à soja, milho e algodão resistentes a herbicidas. Juntos, compõem a vasta maioria das culturas transgênicas do mundo.

Os pesquisadores não encontraram qualquer evidência de que esses OGMs tiveram impacto sobre as prevalências de câncer, obesidade, diabetes, autismo, doença celíaca ou alergias alimentares.

Por outro lado, a introdução dessas sementes modificadas não trouxe ganhos significativos de produtividade nas lavouras. Deve-se considerar, porém, que os OGMs não foram desenvolvidos para esse fim, mas para gerar espécies mais resistentes, o que reduz perdas e aumenta a previsibilidade das colheitas.

Boa parte dos equívocos em torno dos OGMs deriva do erro de tratar todos como se fossem a mesma coisa. A manipulação de genes permite fabricar desde plantas venenosas até alimentos mais saudáveis.

O debate equilibrado exige que transgênicos sejam avaliados em sua especificidade, com análise de riscos e benefícios de cada produto.

As robustas evidências sobre a segurança dos OGMs, todavia, não excluem o direito do consumidor de ser informado sobre sua presença nos produtos que deseja adquirir.

A legislação brasileira já obriga essa rotulagem. Ocorre que o meio utilizado –um símbolo formado pela letra "T" dentro de um triângulo– constitui antes um sinal de alerta que um esclarecimento.

Um projeto que modifica esse item encontra-se no Senado, após ter passado pela Câmara. Pretende-se alterar o emblema estigmatizante por uma frase que indique se determinado alimento é transgênico ou contém OGMs. Melhor seria se o rótulo também incluísse os genes inseridos e as proteínas codificadas pelas modificações.

Isso garantirá que o consumidor seja plenamente informado –e sem a estridência que apenas estimula temores injustificados.

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